
A tecnologia e a era digital mudaram o mundo, mas os grandes encontros de negócios mantêm o mesmo conceito, com grande poluição sonora e visual!
Mercado Mice
por Rose de Almeida
Ando encantada com o escritor Ken Follett e seus romances históricos, principalmente porque em seu retrato da baixa Idade Média, na Europa, consegue descrever detalhadamente a importância das feiras de negócios, da localização dos centros de eventos e dos mecanismos antigos de promoção, negociação e diferenciação de produtos.
Parece que em mais de 850 anos de história desse setor, pouca coisa mudou em relação às feiras de negócios em todo o mundo, exceto o tamanho.
Se, num primeiro momento as feiras cresciam exponencialmente, favorecendo setores em expansão e reunindo num mesmo ambiente quase todos os players, o que facilitava o acesso do público aos diferentes concorrentes, hoje a tendência de segmentação sugere feiras menores e bem específicas. Sem contar ainda o impacto que a situação político-econômica tem sobre este mercado. Dados da Ubrafe – União Brasileira dos Promotores de Feiras, por exemplo, previram em seu calendário de 2018, 30 eventos a menos, sendo que em 2017 foram realizadas 213 grandes feiras de negócios no Brasil e a estimativa para este ano era de 183.
A própria tecnologia impactou sobremaneira as feiras de negócios, resolvendo questões de logística, armazenamento de produtos, sistemas de acesso, segurança e a própria comunicação das marcas com o público. Contudo, apesar de as empresas continuarem exibindo seus produtos em estandes cada vez maiores, os eventos se transformaram em verdadeiros festivais de poluição visual e sonora.
Talvez, por isso, eu sinta um movimento silencioso permeando as feiras: o desinteresse do público pela mesmice da abordagem dos executivos dos estandes, do excesso de materiais impressos, das atrações pirotécnicas e barulhentas, que impedem uma conversa de negócios mais séria, e ainda a redução de público verdadeiramente comprador. Em tempos de redes sociais e era digital, já não vejo muito sentido em as empresas investirem em toneladas de folheterias multicoloridas, pastas, catálogos, papel e mais papel.
Em mais de uma oportunidade, cobrindo feiras e festivais fora de São Paulo onde moro e trabalho, tive de me desfazer da imensa quantidade de papel, deixando no hotel ou me recusando elegantemente a receber o material em cada estande onde parei para fazer uma entrevista. Estande com atração é legal, chama a atenção, leva mais gente interessada em fazer uma caricatura, uma pintura de hena, tomar uma caipirinha de frutas, comer um sanduíche de mortadela ou ganhar uma pipoca feita na hora, mas será mesmo que isso atrai quem está interessado em comprar nosso produto ou vai fazer a diferença entre nossa marca e a do concorrente?
Ah, o espaço está acabando, então vou deixar para falar outra hora sobre brindes e as sessões simultâneas, pois esses assuntos dão outro artigo, certo?