
O que a IA e a história de Pinóquio têm em comum? Há muito o que refletir sobre isso!
• por Flavio Ferrari
Pinóquio é a história de um boneco de madeira criado por Geppetto, um carpinteiro solitário. Geppetto deseja que seu boneco se torne um menino de verdade, e a Fada Azul realiza parcialmente esse desejo, dando vida a Pinóquio.
Para se tornar um garoto de verdade, no entanto, Pinóquio deve provar ser corajoso, sincero e altruísta. Ao longo da história, ele enfrenta várias tentações, desafios e más influências que o afastam do bom caminho, além de perigos que testam seu caráter.
Ele mente e seu nariz cresce, evidenciando suas mentiras. Mas, com a ajuda de sua “consciência”, o Grilo Falante, Pinóquio aprende valiosas lições e acaba encontrando seu caminho para se tornar humano.
A história não nos fala muito de Geppetto, pois a estrela é o Pinóquio, esse novo ser, em busca de sua humanidade através do conhecimento e de suas atitudes.
Toda informação que Pinóquio recebeu sobre o mundo, veio de Geppetto, que passou adiante o que sabia (o que estava em sua base de conhecimento).
E aí estabeleço uma analogia com o que vivemos hoje, na era do GPT, a inteligência artificial generativa da Open AI, o moderno Geppetto do qual somos Pinóquios.
Pinóquio foi para o mundo e, de início, fez mau uso do seu repertório (más influências, diriam seus defensores), espalhando fake news. Mas, é salvo pela consciência crítica, nosso “grilo” que está sempre por perto, alertando-nos para o que consideramos certo ou errado.
Seria culpa de Geppetto se Pinóquio falhasse em seu intento? Ou isso é vitimismo?
A definição do que seria o “bom caminho” daria uma longa discussão filosófica, e seria diferente em cada época.
O italiano Collodi (criador do personagem no início dos anos 1880), indicava a obediência, o trabalho árduo e a responsabilidade como fundamentos.
Sessenta anos depois (1940), Disney preferiu valores mais abstratos como coragem, sinceridade e altruísmo. Os pontos comuns a ambas as versões são: não se deve mentir e ter uma consciência crítica é muito importante. Costumo dizer (e não só eu) que diante de um problema, de um erro ou do fracasso, temos a opção de assumir a posição de vítima ou de protagonista.
A vítima não tem culpa e, portanto, não tem poder para mudar sua história.
Protagonistas assumem sua responsabilidade e ganham o poder de aumentar a chance de sucesso no futuro. E o que vejo é uma forte tendência a culpar o
Geppetto por nossos futuros problemas.
As discussões sobre as Inteligências Artificiais Generativas apenas começaram, mas creio que podemos aprender com o Collodi, em Le aventure di Pinocchio, sobre a importância da consciência crítica para avaliar as informações, contextualizá-las e tomar as melhores decisões.
E a Fada Azul?
Ela aparece aqui no final para lembrar-nos de que, sem a consciência crítica, não passamos de bonecos animados.
Flavio Ferrari é fundador da SocialData e professor da ESPM.