
O que será o amanhã? Inspirados no passado e em todos movimentos que mudaram o mundo, imaginamos o que acontecerá na próxima década
• por Flavio Ferrari
Zé Rodrix, em sua música Gerações, poetou que de 20 em 20 anos aparece no mundo uma nova geração, mas é de 40 em 40 que todas as coisas se repetem. Então, se queremos saber o que acontecerá daqui até 2030, podemos nos animar a olhar para os anos 1990, uma década tensa e intensa.
Nos anos 1990, a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) deixa de existir em seu formato original, os Estados Unidos invadem o Iraque, Mandela assume a presidência da África do Sul e termina o apartheid, Collor promove a abertura econômica e Fernando Henrique as privatizações, debelando a inflação, a Europa unifica a sua moeda.
Nascem os transgênicos, a clonagem de seres vivos, o Windows 95 e o Google. Renasce o rock no Brasil e no mundo. O Mickey dá lugar aos Thundercats e aos Cavaleiros do Zodíaco. A magia surge com Caverna do Dragão e Harry Potter. Resumidamente, podemos dizer que os anos 1990 foram marcados pela consolidação de mudanças que vinham sendo gestadas nos anos anteriores, pela substituição de modelos esgotados e pela
ruptura de paradigmas.
Para aplicar a teoria de Zé Rodrix, devemos nos perguntar quais modelos se esgotarão e quais paradigmas serão rompidos nesta próxima década.
Os estudos de cenários futuros, inspirados pela jornada arquetípica da humanidade, indicam que Segurança, Significado e Sustentabilidade serão os direcionadores das transformações.
Podemos imaginar que o discurso politicamente correto, o protecionismo das “minorias” e o assistencialismo social sejam substituídos por alternativas mais eficientes e sustentáveis, como decorrência do amadurecimento de nossa democracia.
A sociedade promete ser mais participativa e parece ser inevitável que as empresas encerrem seu ciclo de foco quase exclusivo em resultados financeiros e voltem a ser pautadas por propósitos mais motivadores e pela responsabilidade social.
Tudo terá mais significado na próxima década. Nossa legislação trabalhista arcaica e super protetora precisará ser revista para acomodar as novas relações de trabalho, com home-office, jornadas de trabalho flexíveis, remuneração variável, a multiplicidade de empregos (GIG economy), a participação nos resultados e redução nas relações hierárquicas.
As pessoas trabalharão menos horas, mas com maior comprometimento, propósito e eficiência. Perderão menos tempo no trânsito. O transporte coletivo vai melhorar muito. O número de carros nas ruas diminuirá.
O consumo, em geral, tenderá a ser mais consciente e planejado. As cidades serão mais sustentáveis a partir de 2030.
Podemos esperar que o Brasil encontre a solução para o controle da corrupção e a ética nas relações comerciais finalmente se estabeleça.
Os sistemas de saúde, previdência e educação serão reestruturados. O controle da corrupção e o novo desenho social participativo resultarão na diminuição da criminalidade. Teremos mais segurança social.
Por outro lado, os investimentos em infraestrutura necessários para a manutenção da qualidade de vida nas grandes cidades não têm sido feitos com a devida antecedência, o que significa que em 2030 seguiremos enfrentando desafios substanciais que serão, finalmente, endereçados nessa década, mas cujos resultados só vão ser colhidos nas décadas seguintes. Os setores hídrico, elétrico, de transportes e de logística de distribuição de alimentos devem receber grandes investimentos em 2030.
Modernos moinhos de vento no Nordeste e estranhas estruturas para produção de energia elétrica hidromecânica nas praias do Sul, drones transportando alimentos e a inteligência artificial coordenando a infraestrutura, novas tecnologias devem começar a fazer parte da paisagem.
O importante é que o governo estará tratando essas questões de forma séria e planejada e a população, mais consciente, também fará a sua parte, moderando o consumo.
Pode parecer uma visão otimista, mas movimentos assim aconteceram há 40 anos e transformaram o mundo.