
• por Simone Galib
Porta de entrada da Amazônia, a capital surpreende pela diversidade de atrações, como suas imensas praias uviais, gastronomia exótica, calor o ano inteiro e natureza exuberante
Agrande tendência do turismo pós pandemia serão as viagens domésticas e o Brasil está repleto de destinos únicos, como Belém, a capital do Pará. Ali, você vai se deliciar com rios que parecem mar tamanha a imensidão, ilhas de água doce com praias e ondas, muito sol e nos arredores, a cereja do bolo: toda a exuberância da floresta amazônica.
A capital surpreende pela diversidade de atrações. Tem uma vida cultural rica, festas, povo alegre, de muita fé, de pele dourada, hospitaleiro e que adora dançar o carimbó (ritmo local). A comida regional, à base de ingredientes e frutas vindos da floresta, é variada, deliciosa e exótica.
Com cerca de 1,5 milhão de habitantes, Belém é uma das maiores cidades da região Norte e um dos municípios mais populosos do país, segundo o IBGE. Porta de entrada da Amazônia, foi fundada em 1616 no Forte do Presépio (hoje um complexo turístico e cultural). Memórias do seu passado estão em vários pontos da capital, principalmente nos casarões coloniais do centro. Pena que muitos não foram devidamente preservados, mas ainda mantêm sua beleza arquitetônica e histórica.
CIDADE DAS MANGUEIRAS

A Ilha de Marajó tem a maior manada de búfalos do país, que abastecem a economia local
Belém tem muito verde e o seu principal símbolo são os túneis de mangueiras (algumas com 123 anos e até 25 metros de altura), que trazem a sombra necessária para encarar as altas temperaturas durante o ano inteiro, típicas do clima tropical – o calor é mesmo intenso com leves pancadas de chuva. Há cerca de 13 mil mangueiras, todas tombadas pelo patrimônio histórco e ambiental. Elas ficam carregadas de frutos que, quando maduros, forram as calçadas. Ninguém precisa comprar mangas por ali. A população também adora uma praça: há 245 espalhadas pela cidade, algumas centenárias e inspiradas nos jardins franceses.
AROMAS E SABORES
Reserve pelo menos cinco dias para curtir a capital, seus arredores e até mesmo locais mais distantes, como a ilha de Marajó, onde vivem os famosos búfalos. Em Belém, comece pelo mercado Ver-o-Peso, um mosaico da cultura amazônica bem no coração da cidade. Ele funciona há 393 anos às margens da Baía de Guajará e vende de tudo: frutas, cereais, peixes, verduras, doces, sorvetes, temperos, cachaças, artesanato e, principalmente, ervas.

O estado é um dos maiores produtores e exportadores do açaí, fruta típica da Amazônia
Com elas são preparadas essências, sabonetes, cosméticos e re- médios naturais, que utilizam matéria-prima do maior laboratório do planeta, a Amazônia. Entre as centenas de barracas, você encontrará as curandeiras, que indicam as ervas, os banhos e as essências para as suas mais variadas necessidades.
Nesse espaço de aromas e sabores, circulam personagens famosos na cidade, como Tia Caló, que já participou de campanhas publicitárias regionais e ganhou até boneca com seu rosto. É uma das especialistas em ervas medicinais mais requisitadas da capital e também costuma benzer os seus clientes para afastar “mau olhado”. Vale a pena trocar um dedinho de prosa com essa senhora alto astral, simpática e que tem várias barracas ali. E, claro, não deixe de comprar algumas essências!
No mercado, funciona ainda uma área de alimentação, onde podemos provar os melhores pra- tos típicos, como o tacacá, a maniçoba, o filhote (peixe da região) e, claro, o açaí tradicional que, no Estado, é servido com peixe camarão e carne seca. É também obrigatório provar os bombons com as frutas exóticas da floresta, como capuaçu, taperabá, castanha-do-pará, bacuri e graviola, entre tantas outras. São deliciosos! Para matar a sede, nada melhor do que os sucos ou vitaminas à base do guaraná da Amazônia. Quem gosta de destilados, deve provar a cachaça à base de jambu, que adormece a boca. É uma das bebidas típicas trazidas como souvenir. Se tiver tempo, vá a esse mercado mais de uma vez uma só é pouca. Você saíra revigorado!
PÔR DO SOL À BEIRA-RIO

Centenas de ervas da floresta amazônica, que abastecem o estado, são colhidas na Ilha de Marajó
Bem pertinho do mercado, seguindo pela orla da baía, chegamos à Estação das Docas, o porto fluvial de Belém que foi revitalizado no ano 2000 e se transformou em um circuito gastronômico com bares, restaurantes, sorveterias, cervejaria artesanal, espaço para eventos e lojas. É dali que zarpam diariamente os barcos para curtir o belo pôr do sol e ver o anoitecer da cidade sob outros ângulos.
O passeio, de uma hora e meia, é embalado por bandas locais de carimbó, cujas letras das músicas se inspiram nas lendas da Amazônia. Mulheres de saias rodadas e flor na cabeça dançam o ritmo local. Ninguém consegue ficar parado e o visual da Baía de Guajará é fantástico. Na volta, aproveite para curtir a noite em um dos bares ou restaurantes da estação, todos sempre muito movimentados. A gastronomia ali é variada: além da cozinha regional, há comida italiana, brasileira e cardápio internacional.
CÍRIO DE NAZARÉ
Na região central, também vale conhecer a Catedral Metropolitana, construída em 1755. Atravessando a praça, chegamos ao Forte do Presépio, ainda com seus canhões apontados para a Baía de Guajará. É desta catedral que todos os anos, no segundo domingo de outubro, sai a procissão de Nossa Senhora de Nazaré, o evento religioso mais importante do estado e que atrai cerca de 2 milhões de pessoas. A devoção à padroeira é realizada há 222 anos, transformando as ruas de Belém em um mar de gente, de todos os credos e lugares do país. Os hotéis ficam lotados e as reservas costumam ser feitas a partir de março. Este ano por conta da pandemia e do distanciamento social, ainda não se sabe se a grande celebração vai acontecer ou como será o seu formato.

De origem indígena,
o tacacá é um dos pratos típicos do Pará; o caldo é feito com goma de tapioca, tucupi, jambu e servido com camarão seco
A procissão termina na praça do Santuário da Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, também no centro da cidade. A igreja é uma das mais frequentadas por moradores e turistas. E há no seu entorno um bom comércio de souvenirs, bares e restaurantes. Um dos portões do jardim da basílica é forrado de fitinhas (parecidas com aquelas da Bahia), colocadas pelos visitantes que deixam ali os seus pedidos. A igreja é muito bonita!
O GRANDE TEATRO
A Praça da República guarda um dos tesouros de Belém: o imponente Theatro da Paz, a primeira casa de espetáculos da Amazônia, construída em 1878, no auge do ciclo da borracha, quando Belém vivia uma fase de grande prosperidade econômica. Com 1.100 lugares (hoje são 900), foi o ponto de encontro da alta sociedade paraense para noites líricas e de festas. Com acústica perfeita, seu projeto arquitetônico foi inspirado no Teatro Scalla de Milão, na Itália.
Boa parte do material de construção e mobília veio da Europa, como o grande lustre de cristal e espelhos franceses e detalhes em ouro. No salão de festas, há bustos em mármore carrara de dois grandes compositores da época: Carlos Gomes e Henrique Gurjão. Ele foi restaurado e hoje é uma das importantes atrações culturais da cidade. Há visitas diárias guiadas.
PARQUES

Vista aérea do Mangal das Garças, um parque ecológico no coração de Belém, com aves e plantas nativas
Se não tiver tempo de se aventurar no meio da floresta, vá ao Parque Ecológico Mangal das Garças, que é uma síntese da vegetação amazônica bem no coração de Belém.
O melhor horário para visitá-lo é a partir das 16h, quando centenas de aves começam a voar para lá porque sabem que serão alimentadas. Ali funcionam o museu de navegação amazônica, borboletário e um restaurante self service. Depois da revoada das aves, vale subir no Farol de Belém, uma torre metálica de 47 metros de altura com uma vista incrível da cidade. Termine o passeio no mirante do rio Guará para assistir ao pôr do sol. Lugar perfeito para ir com crianças!

A Estação das Docas, o antigo porto fluvial que foi restaurado e transformado em polo gastronômico
ILHAS E TRILHAS
Para os que amam a natureza, aventure-se em algumas das 39 ilhas de Belém. Uma das mais próximas e frequentadas é a Ilha do Combu, com vários restaurantes rústicos sobre as águas. Além de experimentar a culinária local, você pode tomar banhos de rio. Os barcos que levam à ilha saem da praça Princesa Isabel, no bairro do Condor.

A Catedral Metropolitana, no centro histórico de Belém
Se quiser fazer todos os passeios com mais segurança e até comodidade, contrate algum guia (os hotéis sempre indicam) ou procure uma das agências de viagens locais. Embora, a capital não tenha ainda uma grande estrutura de receptivo turístico, esses guias oferecem passeios de barco em catamarãs com direito a trilhas na floresta para conhecer uma pequena amostra da vegetação amazônica, colheita de açaí, experimentar chocolates e castanha-do-pará. Este passeio é muito procurado pelos turistas estrangeiros.

Outra ilha muito frequentada é a do Mosqueiro, a 70 km do centro de Belém (cerca de uma hora e meia de carro) e local de veraneio dos paraenses, na baía de Marajó. Tem 17 km de praias fluviais de água doce com ondas. Neste distrito de Belém, antiga moradia dos tupinambás, há restaurantes típicos, tapiocas fresquinhas e um pôr do sol maravilhoso!
ILHA DE MARAJÓ
Para fechar nosso roteiro, nada melhor do que a Ilha de Marajó, um pedaço quase intacto da floresta amazônica. Depois de atravessar de barco uma imensidão de água, chegamos ao maior arquipélago flúvio marítimo do planeta, banhado pelo Oceano Atlântico e pelos rios Amazonas e Tocantins.

Pôr do sol na Baía de Guajará; há passeios de barco diários no nal da tarde
É um lugar longe de tudo, exótico e de cultura muito peculiar. Orgulha-se de ter o maior rebanho de búfalos do país. Os enormes animais estão por toda a parte, tanto em manadas nas áreas rurais, quanto nas ruas de Soure, considerada a capital da ilha, e nas praias mais procuradas por turistas para passeios. Eles abastecem a culinária, por meio de sua carne e leite, e o comércio com peles, que se transformam em sapatos e outros acessórios.
Na ilha a gente pode conhecer o trabalho de cerâmica estilizada, herança dos índios marajoaras que ali viveram há 3 mil anos. E experimentar a culinária local: o Filé Marajoara, servido com mussarela derretida; e o Vaqueiro Frito, fraldinha (costela) cozida e acompanhada por pirão de leite – todos de búfalo, claro! A ilha também tem inúmeras plantações de abacaxi, que são doces feito mel, e boa produção de queijos, como a deliciosa mussarela de búfala.

Combu é uma ilha bem próxima a capital, com seus restaurantes de comida típica
Em Suare, estão as praias mais frequentadas – Pesqueiro, Barra Velha e Joanes – as pousadas e restaurantes. É ali que também vive a maior parte dos cerca de 250 mil habitantes. Os barcos e catamarãs zarpam do porto de Belém e a travessia dura entre duas e três horas. Os catamarãs são um pouco mais rápidos, fechados, têm ar condicionado e até área VIP. Os barcos, com grandes janelas, demoram mais, porém nos fazem imergir no melhor das paisagens da Amazônia.
Viajar pelo Brasil é bom demais!

O alegre carimbo, ritmo do Pará
SAÚDE EM PRIMEIRO LUGAR
Limpeza, desinfecção e segurança sanitária entram a partir de agora na lista de prioridades dos viajantes. Assim, a exemplo do que está feito em vários países, o Brasil lançou o selo Turismo Responsável, com vários protocolos de saúde e segurança para a retomada do setor. Eles oferecem boas práticas de higienização a cada um dos segmentos da cadeia produtiva do turismo. É gratuito e está disponível no site do Ministério do Turismo. bit.ly/seloturismo