
Alexandre Sampaio, um dos empresários mais atuantes do setor, fala com otimismo sobre a nova fase do país, os projetos para o turismo, as recentes conversas com o presidente eleito Jair Bolsonaro e diz que os brasileiros precisam de muita fé em 2019, colaborando com o novo governo.
Esperanças renovadas!
Empresário com mais de 30 anos de atuação no mercado hoteleiro do Rio de Janeiro, Alexandre Sampaio está otimista em relação ao futuro do turismo no país. Experiência no setor e representatividade ele tem de sobra: é presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA), diretor e presidente do Conselho de Turismo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), responsável pelo cb54 (Comitê Brasileiro de Normalização em Turismo da ABNT) e gestor do SindRio (Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro).

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Sampaio já manteve dois encontros com o presidente eleito Jair Bolsonaro – o primeiro durante a campanha e o segundo logo após as eleições em que conversaram sobre alguns temas do trade, entre eles a segurança pública. “Bolsonaro concorda que esta é uma questão fundamental para o turismo”, diz. Nesta entrevista, ele fala ainda sobre os principais problemas do setor, mas diz que são boas as perspectivas. “O Brasil terá um governo mais proativo, com menor presença do Estado e o papel da iniciativa privada muito mais expressivo.” E, para 2019, ele manda um recado aos brasileiros: “Precisamos de muita fé, de estar juntos com o novo governo, participando, colaborando, sugerindo e também sendo críticos.” A seguir, os principais trechos.
Viagens S/A – Qual a sua expectativa para a nova fase do Brasil?
Alexandre Sampaio – A expectativa é boa para o futuro do turismo. Precisamos esperar pela decisão do novo governo quanto ao papel do Ministério do Turismo, se haverá uma fusão com o de Cidades e Infraestrutura, como vem sendo cogitado, ou se pode vir a ter outro desenho [a entrevista foi feita antes de qualquer decisão do novo governo nesse sentido]. De qualquer maneira, as entidades nacionais mostram-se favoráveis à manutenção do titular atual, Vinicius Lummertz, e também torcem para que o turismo continue a ter sua própria pasta. O setor está confiante de que o Brasil terá um governo mais proativo, com menor presença do Estado e com o papel da iniciativa privada muito mais expressivo.
Viagens S/A – Embora o novo governo ainda não tenha apresentado um programa específico para o turismo, qual foi o resultado do seu encontro com o presidente eleito Jair Bolsonaro?
AS – Tive dois encontros com o presidente eleito Jair Bolsonaro. O primeiro no início da campanha, quando levamos o documento Turismo: +desenvolvimento +emprego +sustentabilidade com os principais pleitos das entidades e associações empresariais nacionais do turismo, reunidas no Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade (Cetur) e da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Num segundo momento, em um evento de confraternização, já após a eleição, tive a oportunidade de conversar mais um pouco com ele sobre alguns temas do trade turístico, como a segurança pública. Bolsonaro concorda que a questão da segurança é fundamental para o turismo. Também já declarou a importância de trazermos mais navios de cruzeiros para o Brasil, as questões do licenciamento ambiental mais rápido, das PPPs para administrar parques nacionais, do aumento do visto eletrônico de concessão para admitir estrangeiros no país, sem alterar a reciprocidade, de maneira mais ágil e mais ampla. Notícias muito promissoras como um todo.
Viagens S/A – O senhor acredita que o combate à violência, especialmente no Rio (uma das principais portas de entrada do país) pode recuperar o interesse dos viajantes estrangeiros?
AS – Sim. Este é um dos principais entraves, principalmente pelas notícias que são veiculadas lá fora. A violência no Rio e, eventualmente, em outros destinos turísticos do Brasil é periférica e ocorre muito pouco nas áreas turísticas, o que estatisticamente pode ser descartado, levando-se em consideração o número de turistas que o Rio de Janeiro recebe. Mas, a violência é noticiada como se ocorresse de forma generalizada, em qualquer área da cidade. A Embratur deverá ter papel importante nesse processo, assim como a iniciativa privada. Acredito sim que, com uma política do governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, juntamente com o governo federal, e com ações de marketing envolvendo a revitalização da Embratur, poderemos superar tudo isso.

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Viagens S/A – Como presidente da FBHA, quais as prioridades para o setor em 2019?
AS – Pela FBHA, nossa prioridade será perseguir uma reforma fiscal e tributária anunciada e fundamental para que o setor de hotéis e restaurantes possa sobreviver. Também vamos buscar um aprimoramento da desoneração da folha de pagamentos, já que durante o governo de Michel Temer houve a suspensão do regime especial de 4% sobre o recolhimento da folha para lucro real e presumido de hotéis. É importante ampliar esse foco e voltar a uma prática semelhante para estimularmos mais oportunidades de emprego, já que o turismo é um grande empregador por meio de hotéis e restaurantes. Precisamos incentivar ainda políticas de emprego e buscar um sistema de regime especial para todo ICMS de restaurantes no Brasil inteiro ou a unificação de um imposto único, como o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA), que vai permitir que restaurantes tenham uma tributação mais adequada num processo que envolva ainda a ampliação do enquadramento do Simples Nacional para os estabelecimentos.
Viagens S/A – E quais as prioridades do CNC?
AS – Pela CNC, por meio do Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade (Cetur), podemos buscar pontos mais amplos. Vou citar diversos, como a aprovação do projeto de lei que transforma a Embratur em agência, como aconteceu com a Apex-Brasil. Isso permitiria as PPPs e campanhas específicas para vários pontos do Brasil com vários parceiros mundo afora. Gostaria de ressaltar a importância da ampliação do regime de concessões dos aeroportos nacionais, a unificação de um regime único de ICMS para o querosene de aviação em todos os estados numa parceria com Confaz ou com a própria implementação do IVA. Cito ainda a manutenção do regime de importação de equipamentos para parques temáticos, já que não existe algo similar no mercado nacional, e para que viabilize a renovação constante desses equipamentos. A implantação de programas de áreas de exportação turística, já anunciados pelo atual governo, semelhante ao que acontece em Cancún, no México. Posso destacar também uma maior flexibilidade para concessão de marinas, pois temos uma costa fantástica e seria importante facilitar essas questões, principalmente porque essa é uma atração para turistas que navegam o mundo inteiro.
Viagens S/A – E quais os planos para a aviação?
AS – Vamos falar sobre as questões que envolvam uma forma de atrair empresas aéreas low cost estrangeiras para que possam voar no Brasil no sistema de cabotagem. Para isso, seria fundamental a aprovação do projeto de lei que propõe que companhias aéreas brasileiras possam ter até 100% de participação de capital estrangeiro. Desta forma, aumentaríamos a concorrência e diminuiríamos os custos da aviação, além de ajudar na implantação da aviação regional. Acredito que esses pontos são fundamentais para o trabalho que vem sendo feito pela CNC e que pretendemos desenvolver.
Viagens S/A – Quais foram (ou ainda são) os principais problemas enfrentados pelo setor durante esta crise econômica do país?
AS – A crise afetou todos os setores da economia no Brasil, inclusive o turismo. A perda de poder aquisitivo do brasileiro, além dos altos índices de desemprego, diminuíram efetivamente o turismo interno. As questões econômicas que interferiram e provocaram a subida do dólar fizeram com que estrangeiros deixassem de viajar para o Brasil e também com que os brasileiros reduzissem as suas viagens para o exterior. Então, o turismo, como um todo, sofreu muito. Além disso, na cesta de consumo básico do brasileiro, o lazer é uma coisa secundária. Se conseguirmos aumentar o ritmo do crescimento do PIB e diminuir o desemprego, acredito que o turismo poderá ressurgir com muita força. Algumas áreas, como alimentação fora do lar, também serão impactadas de forma positiva, com a possibilidade de mais empregos. Acredito também que, se forem implementadas as medidas que fazem parte do documento Turismo: +desenvolvimento +emprego +sustentabilidade, teremos uma grande recuperação baseada no turismo e na área de serviços.
Viagens S/A – Como estão atualmente os setores de bares e restaurantes? Houve crescimento? Há novos projetos nesse sentido?
AS – O setor está em compasso de espera e, se observarmos o eixo Rio-São Paulo, podemos ver que a alimentação fora do lar cresceu em razão do vigor da atividade econômica da capital paulista, que é a locomotiva do Brasil. Esse setor comercial não para de crescer em São Paulo, mesmo com a crise. No segmento de lazer, temos o casual dinner, o jantar de lazer. O ambiente hostil tributário atrapalha bastante o setor. Se conseguirmos solucionar as questões tributárias, acredito que haverá rápida retomada do crescimento. No Rio de Janeiro, a violência afetou muito a vida noturna e o lazer. Isso se espalha para alguns outros estados brasileiros e outras capitais. Acredito que isso tenha contribuído para que muitos restaurantes tenham fechado. Também temos que ressaltar que alguns grupos de empresários conseguiram abrir novos estabelecimentos com produtos novos, preços baixos, produtividade, redução de custos, com efetivo reduzido e ofertas de boa culinária com preços competitivos. Os aluguéis também caíram o que significa que alguns pontos comerciais se tornaram mais acessíveis e nos faz prever o crescimento do setor neste sentido. Ainda tenho a percepção de que marcas internacionais de alimentação estão apenas esperando a definição dos primeiros passos do novo governo para abrir franquias. Então, existe a possibilidade de uma explosão de negócios com marcas conceituais de alimentação a partir de um novo ambiente econômico.

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Viagens S/A – Quais os projetos para impulsionar o turismo doméstico em um país com tamanha diversidade de atrações?
AS – Como já foi dito anteriormente, acredito muito que a aprovação da lei geral do turismo e a sua atualização, que também está no Congresso Nacional no pacote Brasil + Turismo, poderá ser fundamental. Principalmente com três pontos considerados importantes, como a aprovação da proposta de 100% de participação de capital estrangeiro nas aéreas nacionais, modernização da lei geral e a questão da nova Embratur são importantes para esse processo e vão dar um up grade no turismo doméstico. Também precisamos aprovar a legalização dos jogos de azar no Brasil, que faz parte de um pacote que é extremamente necessário para ampliar as atrações e deixar o turista mais tempo no país. Posso citar ainda alguns pontos, como a importância da divulgação de atrações, como o Pantanal da Amazônia, o turismo histórico de Minas Gerais e o turismo religioso.
Viagens S/A – Qual a expectativa de ocupação dos hotéis para as festas de final de ano?
AS – Já é possível sentir uma recuperação grande desse segmento, principalmente no Rio de Janeiro e em outros estados com uma procura razoável de turistas, principalmente porque os preços caíram e não são os mesmos de quatro ou cinco anos atrás. Mas, em termos de ocupação, tem sido positivo. O turista sul-americano continua com forte presença no Sul do país e no Rio de Janeiro, inclusive alguns voos diretos de companhias aéreas brasileiras e argentinas estão conseguindo levar uma boa movimentação para as capitais nordestinas. Com isso, acredito que as festas de fim de ano devem ser positivas, mas com faturamento ainda menor do que o dos anos anteriores.
Viagens S/A – Qual a sua mensagem para os brasileiros em 2019?
AS – Muita fé. Precisamos estar juntos com o novo governo, participando, colaborando, sugerindo e também sendo críticos. Gostaríamos muito que o Ministério do Turismo fosse mantido, mas, se não for possível, pela redução de custos administrativos do governo federal, que ele tenha um papel de protagonista com a nomeação de um expert do setor, que possa trabalhar juntamente com os novos governantes para trazermos um ambiente mais favorável ao crescimento do setor no nosso país. O empresariado quer empreender no Brasil e, para isso, precisa de um ambiente que traga segurança jurídica, estímulo para investimento e geração de empregos e uma melhor mensagem para estimular os nossos turistas. Também acho um papel fundamental do Sistema Comércio CNC, Sesc, Senac é o desenvolvimento do turismo social. O Sesc é importante nisso, pois os nossos hotéis visam atrair não só o comerciário, mas também pessoas com um poder aquisitivo mais restrito e seria bom criar mais opções de lazer.