Roteiro completo sobre o turismo da saúde no mundo, que atrai pessoas em busca de tratamentos médicos, estéticos e de bem-estar. Esse segmento em ascensão já movimentou US$ 500 bilhões!
Viagens que curam!
por Fabio Steinberg
Há uma modalidade que está entre as que mais crescem no mundo. Trata-se do turismo da saúde. Por trás desse nome genérico um generoso guarda-chuva abriga não apenas a medicina tradicional. Sob o conceito de saúde e bem-estar, desfila ainda uma gama de tratamentos. Eles vão do estético ao relaxamento físico e espiritual, da busca da felicidade ao esoterismo para agradar todos os gostos.
O turismo médico está focado principalmente em tratamentos de consultórios ou hospitais de outro país. A rigor, é algo que já existe há décadas. Só que antes os moradores de regiões menos desenvolvidas buscavam terapias nos centros médicos mais avançados do planeta. Recentemente, esse processo se inverteu. Agora, são os cidadãos de países do primeiro mundo que procuram atendimento médico em destinos menos desenvolvidos. Como bônus, podem fazer também turismo antes de realizar um procedimento, ou depois, durante a fase de recuperação.
Há dois grupos interessados nesse tipo de viagem internacional. De um lado, são os que buscam serviços de qualidade, nem sempre disponíveis ou legalizados onde vivem. De outro, estão aqueles que correm atrás de menores custos e melhores prazos de atendimento para suas necessidades médicas.
Os tratamentos mais frequentes são dentários, cirurgias eletivas (não emergenciais), fertilidade, e cosméticas. Psiquiatria, medicina alternativa ou convalescência também andam em plena ascensão.
Países desenvolvidos como Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Japão, Canadá e França tendem a atrair pacientes interessados em procedimentos mais complexos e avançados. Já na medicina convencional, a disputa se dá entre África do Sul, Tailândia, Malásia e Singapura, a maioria interessada em abocanhar um pedacinho do filão que até recentemente era explorado só pela Índia. Dubai também desponta como importante polo médico. Já ocupa o 16º lugar global, com meta de atrair meio milhão de clientes/ano até 2020.
Muita gente imagina que esses tratamentos ocorrem em alguma clínica rudimentar, no meio da selva de um país do terceiro mundo. Puro preconceito. Hoje nesses destinos menos desenvolvidos há sofisticadas instalações médicas dentro de centros urbanos, com tecnologia de ponta e serviços de alta qualidade.
Já o turismo de saúde e bem-estar é uma atividade relativamente nova, mas que se expande de forma exponencial. Consiste em viagens que permitam se engajar em atividades saudáveis para quem está atrás da cura e /ou equilíbrio pessoal. Isso pode ocorrer em destinos exóticos, resorts ou retiros, entre outros ambientes propícios.
Mercado concorrido
Não é para menos que países que participam do turismo da saúde promovam uma acirrada disputa entre si. Afinal, são 14 milhões de pessoas que cruzam as fronteiras internacionais todos os anos. Em cada viagem, gastam em média entre US$ 3,8 mil e US$ 6 mil – entre despesas médicas e bem-estar, transportes e hospedagem. O segmento se expande a invejáveis taxas anuais de 10%, em um mercado que já atingiu US$ 500 bilhões. Projeções falam em receitas que devem alcançar US$ 3 trilhões até 2025.
Os destinos mais populares para o turismo médico são Canadá, Cuba, Costa Rica, Equador, Índia, Israel, Jordânia, Malásia, México, Cingapura, Coréia do Sul, Taiwan, Tailândia, Turquia e Estados Unidos.
Já para cirurgias cosméticas, os viajantes preferem Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, México, Turquia, Tailândia e Ucrânia. Mas, Bélgica, Polônia, Eslováquia e África do Sul também estão no páreo.
Do lado dos viajantes, os Estados Unidos lideram o campeonato mundial dos que buscam tratamento fora do país. Anualmente, eles gastam US$ 200 bilhões no exterior, segundo o Global Wellness Institute. Pudera: é possível ao cidadão norte-americano economizar gastos médicos em até 90% na Índia, 80% na Malásia e Tailândia e 65% na Turquia. Basta dizer que um norte-americano paga por um transplante do fígado US$ 300 mil, mais de três vezes os US$ 90 mil cobrados em Taiwan.
Aliás, nem é preciso ir tão longe. A poucas horas de voo, a Costa Rica oferece operação de by-pass cardiológico por US$ 90 mil, menos da metade do cobrado em território norte-americano. Em geral, os procedimentos médicos no pequeno país do Caribe saem até três vezes mais baratos que nos Estados Unidos.
Eis mais exemplos. Um implante no joelho, que custa em média US$ 40 mil nos Estados Unidos, sai por US$ 12 mil no Panamá, US$ 6,5 mil no México, e US$ 6 mil na Costa Rica.
Atrás dos americanos, na busca por serviços fora de seu território, estão os alemães. Eles dispendem US$ 60 bilhões em despesas médicas no exterior. Os chineses também apresentam um crescimento acelerado, e de um ano para outro dobram gastos, hoje na casa dos US$ 30 bilhões.
E o Brasil? Infelizmente não se encontra entre os países líderes no turismo médico. Com grande potencial, ainda atua timidamente na divulgação de destinos de saúde. O seu grande foco é a cirurgia plástica.
É uma pena. Com excelente tecnologia médica, bons profissionais e instalações, com destaque para São Paulo, o Brasil tem tudo para ocupar espaço neste segmento. “Referência em várias áreas médicas, desde os tratamentos cardíacos até as cirurgias plásticas, a cidade possui mais de cem hospitais, entre públicos e privados, além de inúmeras clínicas com diferentes especialidades, centenas de laboratórios e spas sofisticados”, comenta Julia Lima, presidente da ABRATUS — Associação Brasileira de Turismo de Saúde.
Não se pode ignorar que, junto com os tratamentos, os visitantes internacionais consomem diárias de hotel, transportes, alimentação, tours, produtos e serviços. E quem mais ganha? Sim, a economia do país. Mas há esperança. “O segmento de turismo de saúde no Brasil já existe há pelo menos 15 anos e tem grande potencial, que nós vamos aproveitar”, promete Julia Lima.
Hotelaria e bem-estar, tudo a ver
Demorou, mas finalmente caiu a ficha. Os hotéis são dos que mais têm a ganhar com o turismo da saúde. Fitness centers, piscinas, esportes, spas com tratamentos para a pele ou corpo, cardápios balanceados, recuperação após procedimentos médicos são formas de atrair hóspedes por períodos prolongados e obter receitas adicionais. É só surfar na onda do bem-estar que assola o planeta. Eis três exemplos de oportunidades:
1. Convalescença – transformar quartos feitos para dormir também em ambientes adequados para recuperação de intervenções médicas.
2. Alimentação saudável – hoje o foco é vender álcool e comida, mas sucos naturais e alimentação balanceada podem ser tão ou mais rentáveis.
3. Mais que luxo – Bem-estar não precisa rimar com sofisticação. Ambientes que permitam a meditação, menos uso de luz intensa, e tutoriais na TV, como ioga, podem agradar mais o hóspede que puro luxo.
Turismo de Circunvenção
Sim, isto existe! Trata-se de uma modalidade do turismo que ocorre toda vez que alguém viaja para um destino internacional para ter acesso a um tratamento médico proibido em seu país. Isso inclui procedimentos como fertilidade, aborto ou suicídio assistido, não aprovados em alguns países e aceitos em outros.
Por exemplo, Polônia e Irlanda não permitem aborto e por isso é comum as mulheres viajarem para a Inglaterra, onde não há restrições. Já a organização Women on Waves usa uma clínica móvel em navios para executar abortos em águas internacionais.