Por Maurício Nunes
@lobo_mochileiro
Visitar a Universal Studios Hollywood durante o Halloween Horror Nights
2025 é como atravessar o espelho do cinema e encarar o lado escuro das
histórias que amamos. As luzes de Los Angeles se apagam, a névoa desce sobre o
vale e o parque começa a pulsar sob uma frequência sombria. O que de dia é um
paraíso familiar, à noite se transforma em uma experiência teatral e visceral. São
oito casas de terror e várias zonas de susto, cada uma com identidade própria e
detalhamento cinematográfico digno de um set de filmagem.
Não há onde se esconder — e é exatamente isso que torna a noite
inesquecível. Tudo começa com “Five Nights at Freddy’s”, um pesadelo infantil
em um fliperama decadente, habitado por animatrônicos assassinos e canções de
caixinha distorcidas. O contraste entre inocência e horror cria uma das
atmosferas mais perturbadoras do evento. Já em “Fallout”, o visitante mergulha
em um bunker pós-apocalíptico que vibra como uma distopia viva. O ar cheira a
metal e poeira, e cada corredor revela uma civilização desfeita — mutantes,
experimentos fracassados e um humor ácido que brinca com o absurdo de um
possível fim do mundo.
Os anos 80 voltam em alta definição para o pavor em duas nostálgicas
atrações. Em “Jason Universe”, o slasher clássico ganha nova vida (e morte). O
acampamento de verão – Crystal Lake – ressurge sob a luz fria da lua azul, e o
som distante de galhos quebrando anuncia o inevitável: Jason está por perto. É o
medo em estado bruto, físico, quase primitivo. Entretanto, na casa de
“Poltergeist”, o terror é doméstico, íntimo, quase poético. As televisões tremem,
os brinquedos ganham alma e os corredores parecem existir entre o mundo dos
vivos e o outro lado do espelho. O design de som é tão preciso que o visitante sai
olhando desconfiado para a própria sala de estar.
Décadas à frente destes clássicos do terror, o trono do medo pertence a
Art the Clown — o psicopata cínico e silencioso de Terrifier, que transformou o
grotesco em arte. Sua casa é o coração pulsante do evento, a mais aguardada e
comentada de toda a temporada. O percurso começa com o riso metálico
ecoando no escuro, um cheiro de ferrugem no ar e o som distante de lâminas
afiando. É uma imersão brutal — parte cinema, parte pesadelo — onde o humor
e o horror colidem em um espetáculo de desconforto absoluto. Filas de até três
horas se formam diariamente, o que torna o Express Pass quase uma passagem
de sobrevivência. E vale cada segundo: poucos minutos dentro são suficientes
para entender por que Terrifier virou ícone moderno do horror independente —
e por que Art é hoje o rosto mais temido (e cultuado) do Halloween.
A travessia pelo medo continua com “The Horrors of The Wyatt Sicks”,
parceria improvável — e genial — entre a Universal e a WWE. Aqui, o terror é
ritualizado, teatral, quase litúrgico. Inspirada na mente sombria de Bray Wyatt, a

experiência conduz o visitante por salas que funcionam como capítulos de um
delírio coletivo: símbolos gravados nas paredes, cânticos em eco, lanternas
tremulantes, figuras mascaradas que parecem observar — e julgar — cada passo.
Nada é gratuito: o visitante se sente parte de um culto filmado por um cineasta
perturbado, onde performance e fanatismo se confundem sob luzes vermelhas e
fumaça espessa. É uma experiência densa, hipnótica, como se o horror tivesse
assumido a forma de uma cerimônia. E, se em Wyatt o terror é psicológico, em
“Monstruos 3: The Ghosts of Latin America” ele ganha sotaque, alma e cor. A
Universal presta tributo ao medo latino com uma das casas mais belas e
culturalmente ricas do evento. La Llorona e El Silbón emergem das sombras com
uma beleza mórbida que mistura o misticismo do folclore à sofisticação do
cinema de horror. O resultado é uma homenagem poderosa à tradição oral dos
povos que transformaram suas dores e lendas em mitos imortais.
O percurso das casas culmina com “Scarecrow: Music by Slash”, um
tributo arrebatador ao terror rural e ao rock. A trilha composta pelo lendário
guitarrista do Guns and Roses dita o ritmo do medo — cada susto é um riff, cada
grito, um solo distorcido. Espantalhos tomam vida em plantações apodrecidas,
corvos invadem galpões e o som das cordas transforma o terror em espetáculo. A
conexão entre música e medo é tamanha que o guitarrista ganhou um espaço
próprio no evento: o Slash Bar, onde coquetéis temáticos e trilhas instrumentais
mantêm o visitante imerso na mesma vibração sombria da atração.
E quando os últimos acordes ecoam, o público parece pronto para embarcar em
outra viagem sonora — como se a noite convidasse para um novo destino na
“Night Train”.
E é justamente nesse embalo que o horror muda de trilho: o “Terror
Tram: Blumhouse Experience” leva o medo para os bastidores do cinema.
Guiados pela inquietante M3GAN, os visitantes atravessam cenários de The Black
Phone, O Exorcista e The Purge, até o lendário Hotel Bates.
Lá, Norman Bates — educado e à espreita — recebe os corajosos para uma foto
diante da casa vitoriana.

Entre as casas, zonas de susto mantêm o ritmo: palhaços sádicos,
demônios latinos e zumbis performáticos que interagem com o público entre
risos nervosos. Atrações clássicas como Jurassic World: The Ride, The Mummy e
Transformers permanecem abertas, assim como a nova ala Super Nintendo
World — pausas bem-vindas entre um pesadelo e outro.
Terror sem estação: Universal Horror Unleashed – Las Vegas
Enquanto Hollywood se despede do medo no começo de novembro, em
Las Vegas o terror é permanente. O Universal Horror Unleashed, inaugurado em
agosto no complexo Area15, mantém o horror vivo o ano todo. São quatro casas
imersivas — “The Texas Chainsaw Massacre”, “The Exorcist: Believer”,
“Universal Monsters” e “Scarecrow: The Reaping” — todas com atuação ao vivo e
cenografia digna de Oscar.
O espaço é um museu de horrores interativo, onde o visitante é
personagem. A loja vende lembranças sombrias e o restaurante temático, Blood
& Bone, serve iguarias como Chainsaw Chili – chili apimentado com carne
defumada e feijão preto; Bloodline Burger – hambúrguer com molho vermelho
de beterraba e queijo derretido e Eternal Night – coquetel de gim com carvão
ativado e licor de cereja. É terror em tempo integral — uma celebração da
cultura pop que mistura cinema, performance e gastronomia.
Halloween Horror Nights e o Universal Horror Unleashed são mais do que
atrações: são experimentos emocionais que celebram o poder do cinema.
Hollywood mostra-se, mais uma vez, como a fábrica dos sonhos e o templo dos
pesadelos — e o público, com o coração acelerado, sai lembrando que o melhor
do terror é sentir-se vivo.













