
- por Maurício Nunes
Em 2009, Barack Obama visitou Estrasburgo, capital da Alsácia, região localizada no canto nordeste da França, para participar de uma Cúpula da OTAN. Na véspera do evento, o ex-presidente expôs sua impressão sobre a cidade:
“Estrasburgo é conhecida ao longo da história como uma cidade na encruzilhada. Ao longo de milhares de anos, atravessou muitos reinos e muitas culturas. Dois rios se juntam aqui. Duas religiões floresceram em suas igrejas. Três idiomas compõem um antigo juramento que leva o nome da cidade.”
Obama se referia a Egidius, bispo de Reims, que acusado de conspirar contra o rei Childeberto II da Austrásia, foi julgado por um sínodo de bispos austrasianos em novembro de 590 e considerado culpado, sendo assim removido do sacerdócio e levado “ad Argentoratensem urbem, quam nunc Strateburgum vocant” ou direto “para a cidade de Argentoratum, que eles agora chamam de Estrasburgo“, onde foi exilado.
Cultura Alcasiana
A milenar cidade com cerca de 300 mil habitantes – sendo 20% a população estudantil – faz fronteira com a Alemanha e se comunica, além do alemão e do francês, através de um dialeto baixo-alemânico, o alcasiano.
A charmosa e histórica cidade é vibrante e cosmopolita, portanto oferece ao seu visitante muita história e também o melhor da gastronomia, arquitetura, música e diversas oportunidades culturais, incluindo mais de 10 museus, entre eles o Museu Arqueológico, Museu de Belas Artes, Museu Histórico e Museu de Arte Moderna e Contemporânea, além de uma respeitada orquestra filarmônica fundada em 1855, uma Ópera Nacional e um Teatro Nacional.
Estrasburgo também é cenário de vários festivais culturais ao longo do ano e destaque europeu como um dos mercados de Natal mais antigos e cultuados do continente.
Viva um Conto de Fadas
Os visitantes de primeira viagem a Estrasburgo provavelmente viverão a experiência de estarem dentro de um verdadeiro conto de fadas, pois o cenário com casas que parecem tiradas de uma animação clássica da Disney, com seus telhados inclinados e reminiscentes, decoram as margens do cursos de água que rodeiam e atravessam a cidade, por onde cascatas de flores coloridas pairam sobre varandas e pontes, tornando cada canto um ambiente instagramável, tanto que não por menos o famoso bairro de La Petite France tornou-se uma sensação no Instagram.
Muito provavelmente por este e outros motivos, em 1988 o centro histórico de Estrasburgo foi considerado Patrimônio Mundial pela UNESCO, sendo a primeira cidade francesa a receber esse título e também a primeira vez que tal reconhecimento foi conferido não a um único monumento mas a todo um centro histórico de uma cidade.

O Rio Ill e seu surpreendente delta formado por cinco braços é tão onipresente na Petite France, que daí surgiu a alcunha de pequena Veneza da França. Vistos do céu, os canais se assemelham estranhamente aos dedos de uma mão tentando agarrar a cidade inteira.
A charmosa Place Benjamin Zix, rodeada por bistrôs, restaurantes e lojas, é ideal para apreciar toda a beleza da Patite France, especialmente a Ponte do Faisão, também conhecida como Ponte Giratória, uma pequena e discreta passagem exclusiva para pedestres e que gira para permitir que um barco atravesse o canal, enquanto os transeuntes aguardam assistindo esta atração sem igual.
A ponte Saint-Martin, outro destaque da região, é uma passagem feita em pedra, com dois arcos e um único pilar. Tanto uma ponte quanto a outra oferecem vistas dignas do mais belo cartão postal, onde o charme impera e o celular registra fotos maravilhosas de paisagens inesquecíveis vigiadas pela majestosa catedral de Notre-Dame.
Barragem Vauban

E por falar em proteção, a Barragem Vauban, ou Vauban Dam, é uma obra defensiva que foi erguida sobre o rio Ill no período de 1686 a 1690 pelo engenheiro francês Jacques Tarade. A construção tinha como função permitir, em caso de ataque, a elevação do nível do rio III e, assim, a inundação de todos os terrenos a sul da cidade, tornando-os intransponíveis ao inimigo. Esta medida defensiva foi implantada em 1870, quando Estrasburgo foi sitiada pelas forças prussianas durante a Guerra Franco-Prussiana, onde a barragem, com todas as válvulas fechadas, impediu que o Rio Ill seguisse seu curso, inundando assim toda a terra ao sul de Estrasburgo, atolando por lá os exércitos inimigos. A barragem tem 13 arcos e 120 metros de comprimento e funciona de forma que dentro da estrutura, um corredor fechado, três dos arcos são elevados, o nível da água sobe e assim permite a navegação, e o corredor é atravessado por pontes levadiças.
Há duas formas de assistir o funcionamento da barragem: uma é observando pelas pontes e plataformas a travessia dos barcos e a outra é vivenciando a experiência em um fantástico city tour a bordo das embarcações da BATORAMA, trafegando por todos canais da cidade enquanto a historia é contada nos fones de ouvido individuais com áudio em 12 idiomas, incluindo o português.
Direitos Humanos
O Distrito Europeu de Estrasburgo, desde a sua criação após a Segunda Guerra Mundial, é um testemunho da integração europeia, da defesa dos direitos humanos, da democracia e do Estado de direito. A sede do Conselho da Europa, do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos e do Parlamento Europeu da União Europeia estão situados nesta área.
A rica herança arquitetônica da cidade abrange estilos das eras medieval, renascentista, romântica e até art nouveau. A cidade velha é um labirinto de ruas estreitas e becos para se descobrir e explorar.

O destaque fica para a Praça Gutenberg, uma movimentada área de lazer ocupada por restaurantes, lojas e até um lindo carrossel, tudo em homenagem ao inventor alemão que revolucionou a forma como eram produzidos os escritos de sua época.
Suntuosa Catedral

A Catedral de Estrasburgo (1015-1439), já foi descrita por Victor Hugo, autor de “O Corcunda de Notre Dame”, como “Um prodígio do gigantesco e do delicado”, pois trata-se de uma obra-prima absoluta da arte gótica.
A torre de 142 m de altura parece incrivelmente leve e fez da Catedral o edifício mais alto de todo o cristianismo até o século XIX, por onde muitas lendas ainda cercam este monumento imperdível do patrimônio da Alsácia, onde tanto o interior quanto o exterior da Catedral são extraordinários, tendo em vista que os vitrais mais antigos do interior, que datam do século XIII, emolduram a nave gótica e púlpito.

Mas a curiosidade mais interessante, talvez, seja o intrincado e concorrido Relógio Astronômico construído em 1547, uma maravilha tecnológica que todos os dias, exatamente às 12h30, oferece um espetáculo aos visitantes, onde uma procissão de apóstolos esculpidos marcha em frente a Cristo, enquanto abaixo deles, personagens que representam os quatro estágios do homem passam antes da Morte.

Construída sobre as fundações de uma basílica romana, a colossal estrutura domina a Praça da Catedral, que é o centro de Estrasburgo dia e noite, e a vista panorâmica de toda a cidade do alto da torre é de tirar o fôlego.
Onde comer bem em Estrasburgo?
A culinária da Alsácia combina a farta comida da Alemanha com a delicadeza e a apresentação da culinária francesa, tanto que o foie gras nasceu em Estrasburgo.
Há muitas opções gastronômicas na cidade, que vão desde barracas com guloseimas tradicionais como waffle, até restaurantes de alto padrão, onde dois se destacam.

O Saint-Sépulcre fica a poucos metros da catedral e trabalha com o melhor da cozinha tradicional da Alsácia. O ambiente lembra uma simpática cantina italiana, porém com pratos delicados e com o melhor da culinária francesa a preços bastante justos.

O La Hache, outro conhecido restaurante local, está em um dos mais antigos prédios da cidade e tem suas origens no século 13, em 1257 para ser exato. O nome, inalterado desde aquela data, é uma provável referência ao passado não muito glorioso do que outrora fora uma antiga casa de carrascos.
Totalmente renovado em 2012 por Jérôme Fricker e Gilles Egloff, o La Hache, que obteve o título de Maître Restaurateur em 2015, oferece uma cozinha despojada, chique e autêntica num ambiente simultaneamente cool e atencioso!

Do meio-dia à meia-noite, a inspirada comida caseira é servida à mesa ou ao balcão, tudo aos cuidados do premiado chef, Alexandre Haudenschild. Não deixe de experimentar o Escargot, sem dúvida alguma a melhor experiência gastronômica da região.
Estrasburgo também está bem próximo da Route des Vins, a Rota do Vinho da Alsácia, conhecida por produzir excelentes variedades, incluindo vinhos Pinot Noir e Riesling, mas se você prefere cerveja, não deixe de provar a Villa Meteor, produzida em uma das mais antigas cervejarias privadas do país.
Onde Ficar?
O Hotel Hannong está localizado no centro de Estrasburgo, a apenas a 5 minutos de caminhada até a estação de trem da cidade e a mesma distância até a Catedral.

Com um ambiente bastante elegante e receptivo, os confortáveis quartos contam com ar-condicionado e isolamento acústico, além de piso de madeira, móveis com design europeu, TV via satélite e um banheiro privativo com banheira ou chuveiro.
O ponto alto é o espetacular buffet de café da manhã, que inclui bebidas quentes, muitos tipos de pães, frutas e itens de confeitaria franceses artesanais, além de produtos locais, geleias e sucos.
O Hotel Hannong é a melhor opção em termos de custo benefício e localização e para chegar em Estrasburgo, a melhor forma é pegando um trem TGV de alta velocidade diretamente de Paris, chegando na cidade em pouco menos que duas horas de viagem.