Aromaterapia, musicoterapia e cromoterapia, entre outras vivências, são hoje embasadas por estudos, que mostram sua importância nos cuidados da saúde física e mental!
- por Flavio Ferrari
Psicólogos, neurocientistas e profissionais de saúde dedicam mais atenção ao impacto do prazer sensorial em nossa saúde. A cultura ocidental, por razões históricas, filosóficas e religiosas tende a desvalorizar o prazer e enaltecer o sofrimento, embora algumas correntes de pensamento mais antigas já tenham explorado esse caminho, como o hedonismo grego, o tantra, a yoga e o budismo, em alguns de seus aspectos. Mais recentemente, a psicologia positiva e algumas práticas orientais ocidentalizadas, como o mindfulness e o flow (derivados da meditação) buscaram resgatar a percepção dos benefícios da sensação de bem-estar.
Vários trabalhos científicos vêm comprovando a importância dos estímulos sensoriais e indicam caminhos para melhorar a qualidade de vida. Novas disciplinas, como a aromaterapia, a musicoterapia e a cromoterapia, são acompanhadas de estudos pontuais sobre aspectos mais específicos da sensorialidade, como as experiências gastronômicas e as vivências sexuais.
Objetivamente, o prazer sensorial faz parte de nosso arsenal de sobrevivência e perpetuação da espécie.
É comum encontrar a expressão “sistema de recompensa do cérebro” para se referir à forma pela qual vivenciamos o prazer. Esse mecanismo nos incentiva a comer, a ter relações sexuais e dormir. Culturalmente, complicamos essas três atividades e criamos espectros negativos: a gula, a luxúria e a preguiça. O prazer é substituído pelas obrigações e pela culpa.
Também temos os preconceitos. Uma pessoa que não corresponda aos padrões estéticos do momento é criticada pela forma de se alimentar. Pessoas desempregadas ou com muito trabalho não podem dormir até mais tarde. E o exercício da sexualidade por prazer raramente é visto com bons olhos, principalmente se você for “muito jovem”, “muito velho” ou não estiver num “relacionamento sério”.
Os estudos que demonstram os benefícios da música, das cores e dos aromas tendem a sofrer um preconceito mais genérico e acabam sendo encarados como pseudociência. No pain, no gain (sem dor não há ganho), é o bordão de nosso inconsciente coletivo.
Mas, se você não acredita que o prazer sensorial pode ser benéfico a sua saúde, pode fazer sua própria investigação. Encontrará publicações que relatam o efeito dos odores sobre o sistema nervoso central, o impacto da música na disposição emocional, a relação entre paladar e olfato na relação com os alimentos, a forma como as cores influenciam nossa disposição e como a satisfação sexual afeta positivamente a saúde mental.
Melhor ainda, pode fazer seus próprios experimentos e acessar seu conhecimento interior. Nosso corpo sabe o que é bom e, se prestarmos atenção, podemos nos distanciar do que aprendemos com os outros, identificar o que nos dá prazer e observar como nos sentimos.
O pior que pode acontecer é incluir alguns momentos agradáveis em sua vida. Mas, não abuse. Nem todos os prazeres são “inocentes” e alguns podem, inclusive, fazer mal. Podemos estar distantes de nossos instintos, mas desenvolvemos o córtex pré-frontal exatamente para essas situações.
Flavio Ferrari é fundador da SocialData e professor da ESPM.