Atração de 50 anos no norte da Argentina
texto: Andrea Magalhães
fotos: Adilson Nascimento
O Trem para as Nuvens (O Tren a Las Nubes) é um dos percursos ferroviários mais altos do mundo, a linha C-14 Ferrocarril General Manuel Belgrano, é uma ramificação da linha ferroviária que une as estações de Salta com a de La Polvorilla, passa por belíssimas paisagens, cruza vilarejos pitorescos atravessando montanhas da Cordilheira dos Andes, para chegar ao viaduto La Polvorilla, uma ponte de ferro, a maior obra da engenharia argentina no século XX com mais de 4.200 metros de altitude.
Este ano, em 16 de julho o Trem para as Nuvens completou 50 anos da sua primeira viagem turística, esta ferrovia no passado conectou por muitos anos o último trilho argentino à última ferrovia do Chile, atravessando a cordilheira, onde era utilizada para exportar alimentos e minerais argentinos, e para recebimentos de produtos importados. Hoje este trem é uma das principais atrações turísticas do norte da Argentina, quase obrigatório onde além das belezas naturais você mergulha na cultura e história da Argentina e é um dos trens mais altos do mundo, só perde para a locomotiva chinesa que liga Pequim e Lhasa e do peruano Ferrocarril Transandino.
O caminho de Salta até a estação dura aproximadamente 3 horas de um verdadeiro espetáculo de paisagens pelas Quebradas Del Toro, trajeto com paradas para fotos pelas montanhas coloridas que mudam de cor, que já foram cobertas pelas águas do mar à mais de 180 milhões de anos e pelo povoado El Alfarcito para tomar café da manhã chamado de desayuno campestre com direito a café, pães e chá de coca para ajudar na altitude e conhecer um pouco da história do Padre Chifri, que dedicou sua vida para que essa comunidade tivesse uma “vida mais digna e cheia de amor”, como diz a placa na frente da igreja. Também cruzamos o Parque Nacional de Los Cardones, aérea ambiental criada para proteger uma espécie de cacto dessa região, que já está por lá há cerca de 600 anos. Na volta também são feitas paradas pela Quebrada de las Cuevas, com visita ao Museo Arqueológico de Santa Rosa de Tastil, um dos sítios mais conservados do mundo.
O ponto de partida deste passeio é a estação que fica em um antigo acampamento mineiro, San Antonio de los Cobres, um vilarejo à 3.774 metros de altitude, que além de artesanatos os habitantes, principalmente indígenas oferecem aos turistas folhas de coca e chás para ajudar a amenizar certos enjoos. O trajeto tem só na ida mais de 200 km A velocidade do trem avança cerca de 30 quilômetros por hora, bom para admirar as paisagens com calma e ao chegar no viaduto La Polvorilla volta ao ponto de partida. O trajeto é feito em cerca de três horas, incluindo meia hora parado sobre o viaduto para tirar fotos, apreciar o local e até comprar alguns artesanatos, blusas, gorros e luvas.
O trem tem 5 vagões de passageiros, confortáveis com poltronas espaçosas, com sistema de calefação e banheiros. Nos monitores aparecem informações sobre o percurso com explicações pelos guias. Também tem um vagão para enfermaria e um para restaurante, é simples onde servem lanches rápidos e bebidas, mas também passam com um carrinho pelos vagões oferecendo algumas guloseimas. Se você não sentar em um assento privilegiado na ida, não se preocupe, na volta todos trocam de lugares, quem foi do lado esquerdo passa para o direito e vice-versa.
O passeio passa por curvas em meio às montanhas, atravessa viadutos, pontes e túneis. Após cerca de uma hora sobre a ferrovia a velocidade cai para 10 km/h até o trem parar totalmente e chegamos ao ponto mais esperado, o imponente e suspenso viaduto La Polvorilla, uma estrutura de ferro fundido de 224 metros de comprimento, atravessa os trilhos, elevados a 64 metros de altura, toca a buzina insistentemente e chega a hora de descer e encarar o frio a 4.200 metros acima do nível do mar. Bom não demorar para sair do trem para não perder os argentinos entoarem a “Aurora”, canção patriótica do país enquanto içam a bandeira nacional.
E nessa hora aproveite para tirar selfies e fotos nos trilhos nas alturas e comprar artesanatos. Voltando ao trem lembre-se que terá que mudar o lado que vai sentar, pois como o trem não gira, todos terão a oportunidade de apreciar as duas vistas. No trajeto de volta o trem em vez de empurrado será puxado pela locomotiva, então há uma parada para se soltar do trilho passando por uma via lateral para passar o final se o começo do retorno do passeio, também ao som da buzina. Aproveite as paisagens do retorno e claro não esqueça nas curvas de fazer a foto mais esperada, da janela mostrando o resto do trem.