Projeto Chocolate Sul da Bahia converte parte da renda para a preservação do mico-leão-da-cara-dourada
No verso das embalagens dos chocolates da marca coletiva Sul da Bahia é possível notar um QR Code. Através da leitura digital do código, o consumidor é levado a conhecer detalhes sobre a produção do cacau usado naquelas barras, incluindo a origem, características físico-químicas das amêndoas e identificação do produtor responsável pela propriedade rural.
Um desses produtores é José Luiz Fagundes, que desde 2005 se dedica à plantação de cacau sob a sombra de seringueiras e outras espécies da Mata Atlântica no município baiano de Igrapiúna. Foi em 2008, inspirado nos conceitos de qualidade da indústria na qual trabalhou por mais de 20 anos, que José Luiz passou a investir na seleção e beneficiamento de suas próprias amêndoas. Atualmente, sua produção é protegida pelo selo da Indicação Geográfica (IG), garantia da qualidade e procedência que conta com 178 cacauicultores do sul da Bahia credenciados em conformidade com parâmetros técnicos. “O Chocolate Sul da Bahia é uma oportunidade de valorizar também as pessoas que estão na base produtiva, o trabalhador rural, diretamente responsável pelo processo de qualidade do chocolate”, destaca o produtor.
É com cacau de origem certificado pela IG que são produzidas as barras do Chocolate Sul da Bahia, projeto coletivo criado para estabelecer uma relação mais justa entre o cacauicultor e o consumidor do produto final, permitindo uma remuneração melhor a quem produz e ao mesmo tempo um preço mais acessível aos chocolates premium. Segundo o diretor-executivo da IG Sul da Bahia, Cristiano Sant’Ana, isso permite um ganho de até R$ 2 mil a mais por cada saca de cacau agroindustrializada entre os produtores cadastrados com selo de procedência.
“A saca de 60 quilos de cacau selecionado rende cerca de 50 kg de chocolate. O produtor vende o cacau e pode usar parte dessa renda para comprar o chocolate pronto e embalado, com sua marca impressa, a preço de custo. Então ele pode revender no mercado que desejar”, explica Cristiano. Para o consumidor final, as barras costumam valer cerca de 25% a menos do que a média de preço dos chocolates de origem disponíveis no mercado.
Para Grazielle Cardoso, analista sênior do Programa de Desenvolvimento Territorial do Sul da Bahia do Instituto Arapyaú, principal apoiador da IG Sul da Bahia, esse processo de rastreabilidade motiva os produtores e valoriza a região de diversas formas. “Sempre percebemos o potencial desse processo de identificação geográfica como forma de resgatar a cultura e a história da cacauicultura no sul da Bahia, além de contribuir com boas práticas de sustentabilidade e com a produção de um cacau com cada vez mais qualidade”, assinala.
Elaborado nas versões 65% puro cacau, 65% cacau com nibs e 65% cacau com cupuaçu, o Chocolate Sul da Bahia é processado na fábrica do Centro de Inovação do Cacau (CIC), iniciativa do Parque Científico e Tecnológico da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). A fábrica tem capacidade para produzir até duas toneladas de chocolate por mês, mas já estão previstas parcerias com outras duas fábricas, que podem garantir a produção de até 18 toneladas por mês do produto. A formulação com teor mínimo de 65% de massa de cacau obedece ao padrão de qualidade da IG Sul da Bahia, que foi o primeiro regulamento de qualidade do produto registrado no Brasil.
Sustentabilidade
Além da preocupação com a produção local, a IG Sul da Bahia e o CIC também firmaram parceria com a Iniciativa Conservação do Mico-Leão-Baiano (ICMLB)/Projeto BioBrasil e o Laboratório de Ecologia de Conservação da UESC. Com isso, 3% do valor das vendas dos chocolates Sul da Bahia é destinado a programas de preservação do mico-leão-da-cara-dourada, também conhecido como mico-leão-baiano, no município de Una.
Coordenadora executiva do Projeto BioBrasil, a bióloga Ana Cláudia Fandi explica que o objetivo das iniciativas de pesquisa e conservação é elaborar estratégias e para reduzir as ameaças que afetam o Mico-Leão-Baiano e seu habitat, e implementá-las através de uma rede de parceiros, ampliando e fortalecendo a comunicação e colaboração entre instituições e lideranças do Sul da Bahia que atuam em prol da sustentabilidade. “O projeto Chocolate Sul Bahia tem em seu conceito de elaboração critérios que atendem algumas das ações previstas em nosso Planejamento Estratégico para Conservação do Mico-Leão-Baiano, como assistência técnica para os produtores rurais visando a melhoria da qualidade das amêndoas, a valorização das cabrucas, a adequação ambiental das propriedades, além da valorização da biodiversidade da região como um ativo”, pontua a pesquisadora.
A iniciativa é da Identificação Geográfica Sul da Bahia, apoiada pelo Instituto Arapyaú
O Instituto é uma instituição privada, sem fins lucrativos, fundada em 2008 com o objetivo promover o diálogo e a atuação em redes para a construção coletiva e perene de soluções com base na sustentabilidade. Por meio da articulação e mobilização de diferentes atores, busca um modelo de desenvolvimento sustentável em dois territórios principais, que são a Amazônia e o sul da Bahia, duas potências em biodiversidade.
Sobre a IG Sul da Bahia
A IG Sul da Bahia é a maior federação de produtores de cacau da região, com 15 cooperativas associadas, 6 associações de produtores e 2 instituições setoriais, representando atualmente quase 3500 agricultores da região em 7 territórios de identidade da Bahia.