Berço da renascença e terra natal de Leonardo da Vinci,
a capital da Toscana tem algumas das obras de arte mais
famosas do mundo, igrejas de patrimônio histórico e arquitetura
fantástica. Charmosa, a cidade é um museu a céu aberto!
Florença: é pura inspiração!
por Simone Galib
Muito já foi escrito sobre Florença, a capital da Toscana, no norte da Itália. Mas, quando você a visita pela primeira vez não tem como não se encantar, expressando aquela frase que os italianos usam muito: Ma che bela città! Sim, a cidade é linda e tem uma aura especial. A sensação é de reviver por alguns dias uma das fases mais iluminadas e criativas da nossa civilização: a Renascença. Até hoje algumas das principais obras de arte do mundo estão ali para compartilhar conosco suas histórias e as dos ilustres filhos da terra, mestres renascentistas, que nos deixaram ao longo dos séculos um legado precioso e atemporal.
Esqueça a ideia de visitar Florença com pressa, encaixando-a no meio de seu roteiro pela Itália como um bate-e-volta. É um lugar que precisa ser vivenciado intensamente. Observar o belo, exige tempo. São tantos detalhes. Mesmo que você não entre em nenhum palácio ou igreja, vai se sentir em um mu- seu a céu aberto, onde arte e arquitetura estão nas praças, nas igrejas, nos palácios e nas vielas do centro histórico. A cidade é uma das mais bem preservadas do país.
Frequentada por turistas do mundo inteiro, a antiga capital da Itália tem uma boa rede hoteleira, ótimos restaurantes, gastronomia deliciosa, incluindo os bons vinhos da região, vitrines com as melhores grifes italianas e mundiais, um comércio de rua ativo e muito personalizado, que estampa a elegância dos italianos em roupas, sapatos, papelaria e objetos de design. Sem falar naqueles deliciosos cafés com mesinhas na calçada e nas sorveterias com seus variados sabores de gelato, que fervilham dia e noite no centro histórico.
Longe do centro, é possível mergulhar nas mais belas paisagens da Toscana, com seus vinhedos, campos floridos e bosques. Basta percorrer os arredores ou pegar qualquer estrada para visitar cidades próximas, que o cenário de filme aparece. A região é belíssima!
A origem
Florença, Firenze, Florence, Florencia são os nomes traduzidos em diversas línguas desta cidade fundada no século 1 a.C, durante o Império Romano. Era chamada de Floretia (em latim significa florida) e servia como uma espécie de colônia para o imperador Júlio César. Os romanos costumavam batizar locais com nomes que trariam sorte, força e prosperidade. Assim, os campos floridos de Iris (flor chamada de giagiollo), ao redor do rio Arno, teriam inspirado seus funda- dores. Séculos depois, esta flor deu origem ao brasão da cidade. A primeira ponte construída foi a Ponte Vecchio (século 1 d.C), até hoje um dos principais símbolos de Florença.
Ao longo dos anos, a cidade foi devastada pelas invasões bárbaras e, durante o período bizantino (por volta do ano 405) houve muita disputa pela sua localização privilegiada. Mas, no século 13 já era considerada a mais importante da Toscana. E teve início a construção de vários monumentos importantes, como o Duomo (catedral). Tudo começou a mudar mesmo, para melhor, com a chegada da poderosa família Medici. Era também o início da época do Renascimento em que a cultura, a ciência, a literatura e as atividades humanas ganharam muita visibilidade. O resultado foi a criação de obras valiosas – e a partir daí a arte italiana nunca mais foi a mesma: alcançou fama mundial e até hoje é reverenciada. Michelangelo, Leonardo da Vinci e Brunelleschi são alguns dos nomes que compõem essa incrível galeria de mestres e que andaram pelas mesmas ruas que você agora está percorrendo. Essa é uma das mais fortes impressões em Florença.
Explorando a cidade
Nada de andar de carro. Além de ruas estreitas (na verdade, vielas), com muita gente circulando, as vagas para estacionar são muito disputadas, os paquímetros têm tempo determinado e, se ultrapassá-lo, estará sujeito a multas. Mui- tos preferem se hospedar no centro histórico porque podem percorrer a pé boa parte das principais atrações da cidade. De fato, é bem mais pratico, porém muito barulhento com bares, restaurantes, a estação central de trem e o vaivém de turistas nas ruas o tempo todo.
Quem quiser um pouco mais de sossego, pode optar por um dos bairros florentinos. Além de ficar longe do burburinho, é possível conhecer a vida simples dos toscanos, que fazem a siesta na hora do almoço e levam suas crianças para brincar nas praças no final da tar- de, quando saem da escola. Senhoras e senhores também ocupam os bancos dessas praças enquanto aguardam o horário da missa. É uma experiência muito interessante. Além disso, as principais linhas de ônibus levam ao centro e o serviço de táxi é bom.
Sair caminhando às margens do rio Arno (que corta a cidade) em direção ao centro também é muito bom, porque você vai encontrar gente se exercitando, pedalando (uma ciclovia acompanha todo o percurso), praticando remo, quiosques entre as árvores com lanchonetes e mesinhas ao ar livre. O cenário de fundo dos dois lados do rio revela algumas belas construções da cidade.
Palácios e museus
Por onde começar para conhecer essa imensidão de atrações? An- dando muito a pé. Mas, aqui uma dica importante: não leve muito dinheiro em espécie, deixe um cartão de crédito de reserva no hotel e evite grandes mochilas ou bolsas, porque os furtos de carteiras têm crescido muito na cidade. Eles acontecem nos ônibus, nas lojas, nos restaurantes e, principalmente nas ruas, sem- pre lotadas de turistas – seus alvos em potencial. Os ladrões são muito rápidos e difíceis de serem identificados, porque andam bem vestidos e se misturam aos visitantes. Se for alugar um carro, não deixe malas ou objetos de valor no interior do veículo porque eles costumam quebrar os vidros e levar tudo.
O ponto de partida pode ser a Piazza Della Signoria, coração e centro financeiro da cidade. É ali que está o imponente Palácio Vecchio, sede da prefeitura de Florença desde 1322. O marco da praça é a Torre de Arnolfo, de 94 metros de altura. Na fachada, estão os brasões que representam símbolos da República Florentina e seus alia- dos. As esculturas no seu entorno também impressionam. As mais famosas são a réplica de David, de Michelangelo, e a de Netuno.
Considerado um dos marcos da cidade, começou a ser construído em 1299, sendo concluído 15 anos depois. Durante o governo dos Medici, tornou-se residência dos duques da Toscana. Hoje, em seu interior funciona um museu com algumas das principais obras da Renascença italiana. A praça vive lotada e tem um comércio muito bacana. Delicie- se na grande vitrine da loja Prada!
Outro museu que merece ser visitado é a Galeria Uffizi, com um rico acervo de arte. Lá, você pode apreciar O Nascimento de Vênus, de Botticelli, e A Sagrada Família, de Michelangelo.
O charme das praças
É de praça em praça que a gente vai mergulhando na essência da cidade. Assim, não pode faltar uma visita à Piazza Della Reppublica, outro marco do centro, e que foi revitalizada com a criação de avenidas e bulevares. Seu principal símbolo, logo na entrada, é o Arco da Abundância, que foi construído para separar as duas ruas do Império Romano. É super movimentada e frequentada por turistas, porque ali ainda funcionam alguns dos cafés mais antigos de Florença, como o Gilli (de 1733) e o Paszkowski (desde 1846). A praça também é o endereço do hotel cinco estrelas Savoy, um dos mais sofisticados de lá, e do novo Hard Rock Café. O carroussel no centro dela faz a alegria da criançada. Para os que adoram compras, nas ruas ao redor estão as melhores lojas de grifes italianas e internacionais, além do comércio típico fiorentino.
Porta do paraíso
Florença tem mais de dez igrejas, porém a mais famosa delas é o Duomo, ou Basílica di Santa Maria del Fiore, que com sua cúpula se destaca na paisagem da Toscana há seis séculos. Um dos principais símbolos da cidade, é também a quarta maior catedral do mundo, levou dois séculos para ser construída e é Patrimônio Mundial da Unesco. Está comemorando 600 anos.
O design da cúpula foi feito por um famoso arquiteto florentino, Filippo Brunelleschi, de 41 anos, considerado o pai da arquitetura renascentista. Ela é a maior do mundo construída de tijolos, com um diâmetro externo de 54,8 metros. Por isso, essa igreja secular deve ser vista por dentro e por fora.
A incrível fachada tem revestimento de mármore branco, rosa e ver- de e em seu interior estão valiosas obras da arte renascentista. A porta do Batistério é tão fantástica, que era chamada por Leonardo da Vinci como “porta do paraíso”.
O Campanário, construído por Giotto, é aquela famosa torre gótica que aparece nas principais fotos de Florença. Tem 84 metros de altura e uma escadaria que leva ao mirante. Quem consegue subir os 414 degraus, desfruta de uma incrível vista panorâmica.
Além de sua importância arqui- tetônica e histórica, o Duomo guarda 276 sepulturas de grandes artistas, como o poeta Dante Alighieri (autor de Divina Comédia), Michelangelo, Rossini e Galileo, entre outros. Por isso, a Piazza del Duomo (em frente à catedral) é um dos lugares mais movimentados da cidade, com dezenas de bares, cafeterias, restaurantes e lojas de souvernirs.
Efeitos do coronavírus
Não dá para escrever sobre a Itália neste início de 2020 sem tocar no assunto que está preocupando o mundo:
o surto de Covid-19 (coronavírus), que começou na China e se espalhou por todos os continentes. Com um uxo estimado em 56 milhões de turistas por ano, as autoridades italianas tomam medidas rígidas para conter a propagação da doença que pode implodir sua economia. A Itália é o país da Europa com o maior número de casos. Até o fechamento desta edição, a região mais atingida é o norte do país, incluindo a Lombardia e Vêneto. Na Toscana, o número de pessoas infectadas ainda é pequeno. De qualquer maneira, quem viajar agora deve estar consciente que pode enfrentar certas restrições, como controles sanitários em aeroportos, trens, locais públicos e atrações turísticas fechados, como museus e igrejas.
A torcida é para que tudo volte logo à normalidade, mas, enquanto permanecer o surto, os turistas não devem deixar de seguir as regras preventivas, porque a Itália é um dos países europeus mais belos e Florença, a sua joia rara!
Cruzando a ponte
A Ponte Vecchia, que cruza o rio Arno em seu lado mais estreito, não é a mais bonita, mas virou um grande símbolo por ter sido a primeira construída em Florença. Apesar das mais modernas, ela mantém o seu charme com as casinhas de fachadas amarelas no seu entorno. Vale muito a pena andar até lá, onde também há muitos artistas de rua, construções e dezenas de joalherias, uma colada à outra, cujas vitrines estampam a elegante joalheria italiana em ouro, prata e muitas pedras preciosas.
Para conhecer a parte mais nova de Florença, Oltrarno, é só cruzar a ponte. Atravesse porque, do outro lado, no alto de uma colina, está a vista mais incrível da cidade, a Piazza Michelangelo com seu terraço panorâmico e uma enorme réplica da estátua de Davi bem ao centro. O acesso a este local mágico da cidade é feito pela Viale dei Colli, uma rua arborizada, de 8 km. Dá para ir de carro (no local, há um bom estacionamento), de ônibus ou até mesmo a pé. É o melhor lugar para curtir o pôr do sol, com a cúpula do Duomo e o rio Arno a seus pés.
O cenário lembra um daqueles quadros pintados por algum mestre renascentista, que dificilmente você vai apagar da lembrança e sentirá vontade de revê-lo sempre que puder. Florença, definitiva- mente, não é o lugar para visitar apenas uma vez. Buon viaggio!
Serviço
QUANDO IR
Florença recebe turistas durante todo o ano, por isso planeje a sua viagem. Para se ter uma ideia, em julho e agosto (verão europeu) algumas atrações exigem agendamento prévio ou reservas feitas com muita antecedência. A primavera (abril a junho) e outono (outubro a meados de dezembro) são duas estações perfeitas, com temperatura agradável, dias ensolarados e noites mais frias. O inverno na Toscana é longo, rigoroso e de céu parcialmente encoberto, e o verão, muito quente, com temperaturas que podem chegar aos 32oC.
VOOS E TRENS
O Brasil tem voos diretos para Roma, via Alitalia, e com conexões oferecidos
pelas demais companhias aéreas. A viagem dura em média 11 horas. O trem
é um dos melhores meios de transporte para se locomover no país. A malha
ferroviária é ampla, com estações nas principais cidades. Os trens são pontuais,
confortáveis e têm espaço para acomodar a bagagem – o ideal é viajar com uma
mala para facilitar a locomoção pelas estações. A maioria delas tem guarda-
volumes. O percurso de Roma a Florença, em um trem de alta velocidade, é de
uma hora e meia e custa cerca de 100 euros. De brinde, temos as belas paisagens
a caminho da Toscana. Uma boa forma de economizar é comprar os bilhetes, com
antecedência, pela internet, porque a variação de tarifas é grande. Em horários
menos procurados, elas podem custar até metade do preço.
ONDE SE HOSPEDAR
Há hotéis de todos os tipos e preços. Os cinco estrelas oferecem diárias a partir de 500 euros. O Four Seasons Florence, por exemplo, custa em média R$ 3 mil por dia, e o Hotel Savoy, R$ 2,5 mil. Um quatro estrelas bem localizado (no centro histórico) tem uma diária média de 120 euros (cerca de R$ 565,00), com café da manhã. Os chamados B&B (bed and breakfast) também são
uma opção para quem vai car passeando o dia inteiro e usar o hotel só para dormir (é o que todos turistas fazem em Florença). Eles estão espalhados por toda a cidade. Quem quiser se sentir na casa da “mama”, em uma autêntica villa toscana, a nossa dica é o B&B Casale Dei Centro Acri, em Gavinana, a 2,5 km do centro. Tem um belo jardim, café da manhã delicioso e quarto duplo confortável. Ali você se sente parte da família italiana, muito simpática, que o administra. Para quem está de carro alugado, tem um grande estacionamento. A diária é em torno de 65 euros (R$ 300,00).
GASTRONOMIA
A culinária regional típica é deliciosa: muita massa, pizzas, doces, tortas, frutos do mar. Comer bem é uma das boas diversões em Florença. Há também restaurantes de cozinha internacional e asiática, mas não deixe de experimentar a bisteca orentina, um dos pratos mais famosos de lá. No centro, um dos endereços mais tradicionais é o Lorenzo de Medici, restaurante e pizzaria, que funciona ali desde 1950. A bisteca grelhada vem acompanhada de batatas sauté e salada. Mas, a casa também serve pratos das cozinhas mediterrânea, grelhados, pizzas, risotos, massas, além de opções veganas e sem glúten. Para acompanhar, um belo vinho tinto toscano.