
Famosa pela qualidade dos seus vinhos, a província argentina, aos pés da Cordilheira dos Andes, tem paisagens deslumbrantes, mais de mil vinícolas, cassinos, compras e gastronomia saborosa!
Mendoza no topo das Américas!
Por Simone Galib
Pensou em degustar vinhos de altíssima qualidade e preços deliciosamente honestos, saboreando ainda paisagens incríveis da Cordilheira dos Andes? Esse paraíso do enoturismo, emoldurado por uma natureza fantástica, é nosso vizinho. Estamos falando de Mendoza, na Argentina, considerada a capital do vinho da América do Sul. Não é para menos: ali existem cerca de 1,2 mil vinícolas que exportam seus produtos para vários países. Com a valorização do real frente ao peso argentino, a região está em alta entre os brasileiros que gostam de comer e beber muito bem, além de fazer belos passeios entre as montanhas, passando por lagos de água cristalina, picos nevados, ruínas incas e montanhas de beleza única.
A província, no oeste do país, está aos pés da cordilheira, bem próxima à fronteira com o Chile (são apenas 40 minutos de voo até a capital Santiago). Além dos centros de esportes de inverno concorridos, como Las Leñas, abriga o famoso Pico de Aconcágua, a maior montanha do mundo fora do continente asiático, com quase 7 mil metros de altitude. É uma região de clima árido (chove apenas 265 ml por ano), de inverno rigoroso, muitas paisagens desérticas, mas o clima é agradável na primavera (calor de dia e friozinho à noite) e bem quente no verão.

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A cidade de Mendoza, com cerca de 1,6 milhão de habitantes, é tranqüila, arborizada, tem belas praças e uma população hospitaleira, que recebe bem os brasileiros, conversando em portunhol e até mesmo em português. Os bancos funcionam somente no período da manhã e na hora do almoço todo o comércio fecha para a tradicional siesta – aquela sonequinha gostosa no início da tarde, adotada por alguns países europeus.
Mas, não pense que ali há só bons vinhos, gastronomia farta e vida mansa. A cidade oferece boa infraestrutura turística, com hotéis de cadeias internacionais, bares, restaurantes, shoppings, cassinos de última geração, discoteca, museus e teatro, além de eventos bacanas em seu calendário anual, como a Festa da Vindima (colheita da uva), em março, que dura dez dias, e a Intercontinental WineExpo, em setembro, reunindo os maiores expositores de vinhos da região, no Intercontinental Mendoza, o hotel mais top de lá, com cassino, spa e localização privilegiada. A exposição é um dos eventos mais concorridos dessa província, que domina a arte de cultivar uvas e tem muito orgulho em produzir cerca de 70% dos vinhos consumidos no país.
Apesar do clima semi-árido (prepare-se para beber muita água e hidratar a pele com cremes), Mendoza está cercada de áreas verdes. O parque mais famoso é o General San Martin, um antigo deserto, onde foram plantadas 500 mil árvores e construído um lago artificial, hoje point dos praticantes de remo. Quem vai na primavera, pode desfrutar de um imenso jardim de rosas, com espécies de todas as cores. O enorme chafariz logo na entrada, cercado de canteiros floridos, dá as boas-vindas aos visitantes. Ótimo lugar também para caminhar (o parque é muito bem cuidado), praticar esportes ou simplesmente ficar sentado em um dos bancos de frente para o lago!

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Para conhecer um pouco da história local, suba ao Cerro de la Gloria, também localizado no Parque San Martin, onde está o Monumento ao Exército dos Andes, construído em homenagem aos 100 anos da travessia da cordilheira para a conquista da independência da Argentina. A grande batalha do general San Martin e seu exército está registrada na escadaria e no próprio formato do monumento. Lá do alto, você tem uma vista panorâmica de Mendoza e das montanhas. Bem perto do parque, fica o Peatonal Sarmiento, um calçadão onde só se anda a pé. Aproveite para almoçar em um dos simpáticos restaurantes com mesinhas na calçada ou, ao menos, experimentar as deliciosas empanadas argentinas acompanhadas por um bom café.
Falando em história, vale lembrar que a região de Mendoza era habitada apenas pelos índios, entre eles os incas, quando começou a ser colonizada pelos espanhóis em 1521, pertencendo primeiramente ao Chile. Foi estabelecida como província em 1820, mas um terremoto a destruiu completamente em 1861. Dois anos depois ressurgiu em um local mais distante do original e já planejado para enfrentar eventuais tremores de terra.
Parte dessa saga pode ser vista na Praça del Castillo, no centro histórico (a parte antiga), onde Mendoza começou. Ali, há um mural de pedra com fragmentos da configuração da cidade antes do devastador terremoto. No local também funciona o Museu da Área Funcional, onde são feitos estudos de arqueologia. A principal avenida é a San Martin, que corta a cidade de norte a sul.
Na rota do vinho
Por onde começar em uma região com centenas de bodegas, de diferentes tamanhos e perfis? Se você não for passar muito tempo em Mendoza, conhecer duas ou três vinícolas será o suficiente para ter experiências incríveis com o produto local mais famoso. As regiões de Maipu e Luján de Cuyo são responsáveis pelo cultivo da maioria das uvas utilizadas na produção dos vinhos locais. O receptivo da cidade oferece vários passeios, com visita aos vinhedos e degustação que podem ser contratados no próprio hotel.

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A dica do nosso roteiro é a Bodega Tapiz, em Maipú, a 80 km de Mendoza. Na chegada, uma boa surpresa: a bela carruagem (original do século 18) já está a postos para um passeio pelo vinhedo, tendo como cenário de fundo as montanhas, o céu azul e a paisagem meio desértica. Os parreirais ainda estão crescendo neste início de primavera e não há muito verde no entorno. No meio do caminho, encontramos algumas lhamas. A lã dos animais é usada pela comunidade local no artesanato. Xales, gorros e mantas estão à venda na charmosa lojinha da vinícola. Os visitantes podem conhecer todo o processo de produção do vinho, incluindo a de azeite de oliva – outra especialidade da Tapiz.
Ali, também há cursos, degustações e tours guiados para distinguir as características de cada vinho. Em uma charmosa sala, recheada de tonéis de carvalho, tiramos a bebida dos barris com a pipeta e experimentamos diversos tipos para criar o nosso próprio blend – com direito a rótulo personalizado. Uma experiência única com direito a muito vinho derramado no chão, boas risadas e centenas de fotos. A manhã na vinícola termina com degustação dos seus principais produtos em uma enorme sala envidraçada com vista para o vinhedo. Aliás, os vinhos são deliciosos.

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A 30 km dali, ainda em Maipú, está o Club Tapiz, uma residência de 1890 que foi totalmente reconstruída, mas manteve seu estilo colonial. Cercada por 10 hectares de vinhedos (10 mil m2), pés de oliveira e jardins floridos, o Club tem ainda sete charmosos apartamentos, piscina e restaurante, além de uma vista fantástica para a Cordilheira dos Andes. E, para completar a experiência, há um spa, com sauna, hidro e sala de massagens. Não deixe de comprar algumas garrafas de vinho e do azeite extra virgem de oliva, que são vendidos no próprio restaurante. Tudo de bom, não?
Melhores vinhos da região
Por que Mendoza se tornou a capital do vinho da América do Sul? A altitude, entre 900 m e 1.800 m, solo desértico, vento seco e pouca chuva fazem com que a região tenha o terroir perfeito para o cultivo das uvas. Toda a água utilizada na produção vem da liquidicação da neve da Cordilheira dos Andes, que é canalizada em direção aos vales.

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A especialidade da província é o vinho de uva Malbec, que permite a elaboração de vinhos suaves, rosados e espumantes, de vermelho intenso e sabores de frutas. Mas, lá também encontramos uvas Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc, Sirah e Merlot. Há muitas marcas com um ótimo custo-benefício. E, o que é melhor ainda, você pode carregar algumas garrafas no avião. Dá para resistir?
Entre as montanhas
É hora de deixar cabeça nas alturas – literalmente! Subimos as montanhas com destino ao Parque Nacional de Aconcágua, o topo das Américas. O roteiro começa pela Ruta 7, uma estrada sinuosa, muito movimentada e repleta de caminhões por ser considerada a melhor para cruzar os Andes. Faz também a ligação entre Mendoza e a capital do Chile, Santiago. A estrada por si só já é uma grande jornada. Da janela da van, montanhas a perder de vista, algumas em diversas tonalidades, lagos azuis formados pelo desgelo da neve dos Andes, o rio Mendoza que abastece os vilarejos e os vinhedos; alguns mirantes e enormes picos nevados. Uma imensidão de terra e aquela paisagem que a gente costuma dizer que é de cartão-postal. Esse cenário fica ainda mais bonito em Luján de Cuyo, onde existe um mirante para um lago cristalino, com a cordilheira ao fundo. O azul turquesa da água contrasta com a paisagem desértica em tons ocre.

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Nossa próxima parada é um rústico povoado, tipicamente andino, batizado de Puente del Inca, a 180 km de Mendoza. As ruínas dessa ponte de 48 m de comprimento e 28 m de largura, esculpida há centenas de anos pela própria natureza, são a maior atração do local. As tonalidades, do laranja forte ao marrom, de fato, impressionam. No povoado, onde vivem cerca de 200 pessoas, há uma pequena feira de artesanato e roupas. Faz muito frio ali, mesmo na primavera. Para quem não se agasalhou o suficiente, a dica é comprar casacos, gorros, xales e mantas de pura lã, vendidos pelos artesãos locais. Os preços estão atrativos para os brasileiros. Uma luva de alpaca pode ser adquirida por R$ 10. Difícil não sair de lá com algumas comprinhas de inverno. No local, também há uma lanchonete rústica, onde dá para almoçar ou petiscar com vista para as imponentes montanhas da cordilheira dos Andes e um frio de cortar os ossos.

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A última escala de nossa aventura foi o belo mirante na entrada do Pico de Aconcágua. Um congestionamento gigante de caminhões, que estavam sendo vistoriados pelas autoridades alfandegárias, não permitiu que explorássemos melhor o Parque Nacional de Aconcágua. Mas, conseguimos alcançar os pés do pico gigante, totalmente coberto de branco. Visão única e privilegiada do Topo das Américas!
Serviços
Voos – A mais rápida maneira de chegar a Mendoza são os voos diretos da Gol (às quintas e domingos), que duram em média duas horas e meia. Se quiser aproveitar para fazer conexão em Buenos Aires, passando alguns dias na charmosa capital do país (na ida ou na volta), pode optar pelos voos regulares da Aerolineas Argentinas, Latam e Avianca, que decolam do GRU Airport. Os documentos exigidos para os brasileiros são passaporte válido ou RG original.
Hospedagem – Na cidade, há hotéis de várias categorias e de redes internacionais. O Intercontinental Mendoza é um dos mais disputados. A 13 km do aeroporto internacional da cidade, ca em frente ao Mendoza Shopping, o maior da região, com mais de 160 lojas e uma ampla praça de alimentação. É só atravessar a rua. O cinco estrelas tem apartamentos e suítes espaçosas, com vista para as montanhas da cidade, além de um bar/restaurante, o La Barrica, cassino que funciona 24 horas, spa com piscina coberta, farto café da manhã e o maior salão de eventos da região.
Gastronomia – Você vai comer muito bem em Mendoza: a gastronomia inclui muitas massas, saladas, frutos do mar, carnes premium e doces – claro, que todos harmonizados com os bons vinhos locais. Não deixe de conhecer o elegante restaurante 1884 – Francis Malmann, comandado pelo chef argentino mais famoso da América Latina e considerado o melhor da cidade. Foi o primeiro a ser construído dentro de uma bodega, a Escorihuela, que funciona desde 1884 (daí o nome). Situado a poucos metros do centro, tem ambiente colonial e um charmoso jardim com mesas à luz de vela. Os pratos são enormes, com carnes suculentas e excelente carta de vinhos. Mas, faça reserva com antecedência, porque vive lotado.
Clima – No verão (até março) os dias são quentes, ensolarados e com temperaturas que podem chegar até 32o. Mas, as noites são sempre mais frescas (em torno de 17o ). No outono (abril, maio e junho) os termômetros já começam a cair (máxima de 23o e mínimas de 3o). O inverno é rigoroso, com muita neve nas montanhas e perfeito para esquiar. Entre setembro e dezembro, as temperaturas médias são de 30°C (máxima) e 12oC (mínima). Independente da estação, leve sempre agasalhos.
Compras – Com in ação de 42% ao ano, os produtos estão caros na Argentina, mas nem tanto para nós, porque R$ 1,00 vale cerca de 10 pesos argentinos. Essa vantagem do câmbio é retida principalmente na gastronomia. Come-se muito bem por preços bem inferiores aos de São Paulo, por exemplo. Roupas de inverno, cosméticos, vinhos e chocolates também são ótimas opções de compras. O mesmo vale para Buenos Aires. Na rua Florida – um dos principais centros comerciais da capital argentina – os brasileiros andam fazendo a festa.