Cresce internacionalmente entre homens e mulheres o interesse pelo kitesurf, esporte náutico que também vai estrear nas próximas Olimpíadas. E o Brasil, com sua fantástica costa, atrai gente do mundo inteiro em busca de bons ventos e paisagens únicas, além de ser a pátria de campeões mundiais!
Bons ventos no litoral!
Os ventos sopram a favor do kitesurf, que fará sua estréia nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020. O esporte, que permite altas velocidades com pouco vento, garantindo ainda manobras radicais, cresce no mundo inteiro. E a costa brasileira, especialmente o Nordeste, é hoje um dos locais mais procurados pelos praticantes nacionais e principalmente pelos estrangeiros – muitos já compram até casas na região. Além disso, a modalidade impulsiona o turismo, criando novas fórmulas de renda tanto para os atletas, que conjugam sua paixão por velejar com férias ou negócios, quanto para as comunidades locais, que se beneficiam com mais visitantes e maior divulgação.
Além da localização geográfica e sua costa exuberante, o Brasil também é considerado um promissor celeiro para os adeptos do kitesurf: nossos atletas vêm brilhando no pódio de campeonatos mundiais. Esses fatores impulsionam meios de hospedagens e agências de viagens especializadas, que apostam no crescimento da demanda de gente que quer viver experiências únicas junto à natureza. “Sempre apostamos no kite. O esporte foi a verdadeira força motriz para o desenvolvimento turístico de Barra Grande, e até hoje é palco de grande eventos do segmento”, diz Ariosto Ibiapina, dono da pousada BGK, em Barra Grande, localizada no município Cajueiro da Praia, a 400 km de Teresina, no Piauí.
Diante do aumento de interesse pela prática do esporte, surgiu até um portal de conteúdo com as novidades do lifestyle para esse nicho de mercado, que oferece “kitetrips” para destinos do Sul ao Nordeste do país. “O alicerce do nosso negócio é gerar conteúdo com o objetivo de melhor informar a todos os interessados pelo mundo do kite, além de oferecer viagens para aperfeiçoar as técnicas dos praticantes”, conta Ivan Louro, diretor da Local Kiteboarding (LKB). Para quem quiser aprender o esporte, a consultoria também cria pacotes personalizados, levando em consideração fatores como perfil do viajante, investimento e o período do roteiro.
Histórias de sucesso
Para “voar sobre a água”, os atletas usam uma prancha nos pés e uma pipa presa à cintura. Eles são movidos pelo vento e devem criar impulsos com o próprio corpo para realizar saltos. Por ser considerado um esporte seguro, hoje é praticado por crianças, mulheres e até gente mais madura.
Na verdade, essa estrutura que se assemelha a uma pipa já foi muito utilizada no passado como instrumento de tração em carroças, barcos de transporte e esquis até se transformar em ferramenta de um esporte radical. O kitesurf surgiu na França nos anos 1980, onde dois irmãos criaram uma estrutura inflável que facilitava reerguer o kite da água. Mas, o sucesso só foi alcançado dez anos depois, quando os praticantes do windsurf descobriram que o kite atingia mais velocidade, mesmo com pouco vento.
No Brasil, o esporte desembarcou oficialmente no ano 2000, quando foi realizado o primeiro Circuito Mundial com uma etapa na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. No ano seguinte, surgia a Associação Brasileira de Kitesurf (ABK), que está vinculada à Confederação Brasileira de Vela e Motor. Estava dada a largada para o crescimento do interesse por aqui e muitos brasileiros, a partir daí, mudaram suas vidas.
Este é o caso de Carlos Mario Monteiro da Silva, mais conhecido como Bebê, nascido em Lagoa do Cauípe, em Caucaia, no Ceará. Aos 20 anos, ele é tricampeão mundial. “Comecei a andar de kite há cerca de nove anos, incentivado por meu tio, irmão e primos. Hoje, o esporte é tudo na minha vida. Viajei o mundo todo, conheci várias línguas e pessoas incríveis. E com esse trabalho, consegui comprar o meu transporte e, graças a Deus, realizar o sonho da minha mãe, que também era o meu: construir nossa casa própria”, conta. Para Bebê, o esporte está virando uma febre no mundo todo. “Depois que você pega um kite para andar e aprende a saltar, não consegue mais parar”, acrescenta. No Brasil, os lugares preferidos pelo campeão são a Lagoa do Cauípe, sua terra natal, Taíba (município de São Gonçalo do Amarante), Jericoacoara, ambos no Ceará, e Barra Grande, no Piauí.
As mulheres também se destacam no esporte, como Bruna Kajiya que, aos 31 anos, é tricampeã mundial e cinco vezes campeã brasileira. Ela nasceu em Vinhedo, no interior de São Paulo, mas cresceu em São Sebastião e começou a praticar o esporte em Ilhabela, no litoral norte, aos 15 anos, meio que por acaso. “O kite é um esporte que apaixona pelo fato de nos fazer, voar, pular, nos transportar. É uma espécie de meditação, bom para o corpo e para a mente”, diz Bruna.
A atleta afirma ainda que aqui é o melhor lugar do mundo para a prática do kitesurf. “Amo o Nordeste, a região de Cumbuco até Jericoacoara, no Ceará, e também o litoral do Piauí. O Brasil é incrível”. Já no exterior, gosta de velejar em Tarifa, no sul da Espanha, Los Roques, na Venezuela, e Nova Caledônia, na Oceania.
Love Brazil
Mas, o Brasil não é só elogiado pelos atletas da casa. O holandês Youri Zoon (bicampeão mundial), de 28 anos, que cresceu junto ao mar no sudoeste dos Países Baixos, tem até uma casa em Uruau, no Ceará. “Acho o Brasil um dos destinos número um do mundo para a prática do kitesurf por conta dos constantes ventos alísios e as condições de clima quente, que ajudam nos treinamentos.” Em sua lista de preferências, também entram Turquia, Rússia e Espanha. Velejando desde os 13 anos, ele conta que o kitesurf o fez sentir o que nunca havia experimentado antes em outros esportes. “É uma incrível adrenalina”. Para os que estão iniciando, ele aconselha: “Não desista. Você não sabe o quão perto está.” Fica a dica do campeão.
E, por falar em campeões, Victor Borsuk, aos 29 anos já coleciona sete títulos pela Polônia. Ele nasceu em Estocolmo, na Suécia, mas aos 6 anos foi com a família passar férias na Península de Hel, uma área militar polonesa, para aprender a nadar. Começou pelo windsurf, um dos interesses de seu pai. “O windsurf me permitiu entender como lidar com ventos fortes e como não entrar em pânico em águas profundas”, diz, acrescentando que as primeiras experiências com o kitesurf começaram por volta dos 12 anos. “Quando saltei de 6 a 8 metros, praticamente sobre os praticantes de windsurf, soube que este seria um esporte que eu iria amar.” No entanto, ele conta, o começo não foi fácil. “Eu estava com muito medo da força da pipa, mas foi provavelmente a coisa mais excitante porque o esporte me desafiou.”
Para Borsuk, há lugares únicos no mundo, como o estado do Ceará, região muito próxima ao Equador, com ventos e água morna. “Este é um daqueles locais mágicos que devem ser visitados por um kitesurfer”, recomenda. O atleta, que já viajou o mundo por conta do esporte, diz ainda que passa o verão na Polônia e que também o combina com negócios. “Criei um campo de treinamento e organizo ainda viagens para a prática de kite ao redor do mundo”.
O Brasil também é um dos países preferidos da atleta espanhola Rita Arnaus, de 23 anos. Nascida em Barcelona, na Espanha, em uma família que adora esportes naúticos (os pais são campeões de windsurf), ela é bicampeã em seu país, e como todos, apaixonada pelo esporte e pelo litoral do Ceará. “Tenho navegado por Cumbuco, Uruau, Taiba, Paracuru, Ilha do Guajiru, Jericoacoara… todos esses lugares são tão lindos!” Pelo mundo, Rita destaca outros paraísos, como Los Roques, na Venezuela, Dakhla, no Marrocos, e Cabarete, na República Dominicana.
Para ela, os benefícios do esporte são muitos. “O kite é energia, vitalidade, felicidade, a minha fuga. Ele me mantém equilibrada fisicamente e mentalmente, além de me proporcionar bons momentos com a família e amigos. Mudou a minha vida desde o primeiro dia.”
Inspire-se
Um esporte democrático
O kitesurf pode ser praticado por todos, mas o requisito básico para qualquer iniciante é saber nadar. O campeão europeu Victor Borsuk diz que é preciso ter mais de 8 anos de idade, pesar acima de 35 kg e ser aventureiro. Ele ressalta ser importante a presença de um instrutor profissional. “Começamos com uma pequena pipa na praia, depois o instrutor nos coloca sob uma pipa inflável maior e aí começa a verdadeira aventura com o corpo.”
É claro que tudo vai depender da aptidão e da dedicação de cada um, mas na maioria das vezes o aluno costuma velejar (de maneira básica) entre três e cinco dias de aulas. Para quem já tem alguma familiaridade com esportes náuticos de prancha, como surf e windsurf, o aprendizado pode ser ainda mais rápido. Os praticantes contam ainda que um dos objetivos iniciais é fazer o primeiro Downwind (sair de uma praia, por exemplo, e velejar a favor do vento até outra).
Segundo eles, a sensação que se tem e a paisagem vista de dentro do mar são incríveis. Há várias formas de praticar o esporte, sempre com direito a muita diversão na água. As mais conhecidas são o Kitewave (manobrar ou usar as ondas como rampa para dar o salto); a Race (corridas realizadas em alto mar com uma prancha específica e que oferece muita velocidade); Freeride, onde você apenas veleja e sente o vento (é a mais praticada) e o Freestyle, que exige manobras e saltos mais radicais.
Além de manter o corpo saudável e em forma pelo fato de se gastar muita energia, o kitesurf, dizem os atletas, é uma excelente terapia para a mente, que se beneficia pelas paisagens exuberantes e pelo contato total com a natureza. Os que seguem a trilha dos ventos dificilmente vão querer parar tão cedo!
Melhores lugares para a prática do esporte
Não é por acaso que o Nordeste brasileiro foi eleito o paraíso do kitesurf. A região oferece os melhores picos de vento no país praticamente durante o ano inteiro e tem posição geográfica estratégica. Em outros estados do país, o esporte pode ser praticado em Araruama (RJ), Praia de Ibiraquera (SC) e Ilhabela (SP). Já no circuito mundial, os destinos mais cobiçados são: Tarifa, na Espanha; Melbourne, na Austrália; Mauí, no Havaí; Cabo Verde , na África do Sul; La Ventana, nos Estados Unidos, e a ilha de Aruba, no Caribe. Aqui no Brasil, conheça alguns dos lugares que estão sempre na agenda dos atletas e também são perfeitos para curtir muito sol, belas praias e deliciosos banhos de mar.
BARRA GRANDE (PI) – Com diferentes condições de maré e ótimos ventos, ali o “ventilador” natural está sempre ligado. É referência nacional e internacional, inclusive entre atletas estrangeiros já estão comprando terras e outras propriedades na região.
CUMBUCO (CE) – A praia, conhecida por suas dunas, é o grande point do esporte por ter ventos constantes e fácil acesso (fica a apenas 30km de Fortaleza). Os melhores atletas de freestyle (modalidade mais radical, com saltos e manobras) costumam treinar muito por lá. Destaques para a lagoa do Cauípe e da Taíba.
PREÁ (CE) – O local fica próximo a Jericoacoara, uma das praias mais bonitas do mundo. Tem ótimos ventos e infraestrutura para receber turistas e praticantes do esporte. O acesso também ficou mais fácil com os voos para Jeri.
ICARAÍ DE AMONTADA (CE) – Um local muito frequentado pelos europeus, entre os eles os que adoram esportes de vento. É chamado carinhosamente de Icaraizinho e fica a 200 km de Fortaleza. Destino perfeito para a prática do kitesurf.
ATINS (MA) – Localizado no município de Barreirinhas, é uma das portas de entrada para os Lençóis Maranhenses, outro lugar de grande beleza natural. É um vilarejo de pescadores (quase secreto), de ruas de areia e poucas casas ou pousadas com luz elétrica. Está ganhando muito destaque na cena do esporte, principalmente no exterior. O acesso, limitado, é feito por barco ou veículo 4×4.
SÃO MIGUEL DO GOSTOSO (RN) – Esse pequeno paraíso a 108 km de Natal, além de lindo, é um dos lugares com mais tempo de vento no Brasil. O vilarejo tem estrutura, acesso relativamente simples e um clima muito agradável.
OSÓRIO (RS) – Considerada a capital dos ventos do Rio Grande do Sul, a cidade, com muitas lagoas e montanhas, é perfeita para a prática do esporte. Tem escola de kitesurf e uma fazenda onde uma plantação de arroz alagada se transformou em uma piscina para velejar.