Bonita, cultural e segura, a capital da Áustria abrigou os grandes nomes da música erudita, como Mozart, Beethoven, Schubert e Brahms, entre outros gênios.
Espaço férias
por Maurício Nunes
Entre as sinfonias de Viena
Viena é a sétima maior cidade da União Européia e a que mais fala o idioma alemão, depois de Berlim. Cortada pelo rio Danúbio, é uma das regiões mais ricas de toda Europa e ainda leva a alcunha de “a cidade da música erudita”. Por entre suas charmosas, históricas e hoje extremamente limpas e seguras ruas, caminharam Mozart, Beethoven, Schubert, Brahms, Mahler, entre tantos outros mestres que fizeram de Viena a base de seu sucesso pelo mundo.
A bela cidade também foi sede do reinado dos Habsburgos, uma das dinastias mais influentes de toda Europa. Frederico 3o, imperador em 1452, reforçou a dinastia com sua habilidade matrimonial, casando filhos com famílias poderosas. Maria Luísa, a segunda esposa de Napoleão 1o; Maria Antonieta, que perdeu a cabeça na guilhotina; e até a esposa de Dom Pedro 1o, Leopoldina, são exemplos desta dinastia que ascendeu ao poder na Áustria em 1287, com Rudolfo 1o, e se manteve até 1918, quando foram dissolvidos com a derrota na Primeira Guerra Mundial.
Uma visita pelo suntuoso Hofburg, complexo imperial no coração de Viena, é a melhor maneira de conhecer e descobrir como viviam os Habsburgos. A adorada e cultuada imperatriz austríaca Elisabeth Amalie Eugenie, mais conhecida como Sissi, ganhou até museu em sua homenagem, com permanente exposição de vestidos, joias e até máscara mortuária da ilustre personagem que foi também imortalizada pelo cinema na pele da deslumbrante Romy Schneider.
O Palácio de Schönbrunn é outra visita obrigatória. O famoso Palácio de Sissi ou Palácio de Versalhes de Viena, como também é conhecido, foi o lar da imperatriz que, apesar de linda e viver no luxo de um imenso palácio, era infeliz e depressiva. Nem tudo é perfeito em contos de fada, viu? Mas, por falar em perfeição, foi neste palácio, na Sala dos Espelhos, que Mozart tocou pela primeira vez, com apenas seis anos de idade, para a realeza.
Os grandes jardins da vasta propriedade possuem um gigantesco labirinto público, muito parecido com aquele do famoso filme O Iluminado, de Stanley Kubrick. A diversão faz parte do ingresso, pois nem só história tem essa visita.
A cidade que respira cultura
A arte e a cultura em geral são elementos constantes em Viena. Há imponentes museus, teatros históricos, óperas e diversos concertos de música clássica por cada canto desta importante metrópole.
O Burgtheater, teatro nacional, foi inaugurado em 1741 e até hoje mantém vasta programação, assim como o Volkstheater Wien, o teatro popular da cidade desde 1889, que mantém preços ainda módicos ao público para seus eventos. Mas, talvez, o mais importante e imponente espaço de espetáculos em Viena, seja o Wiener Staatsoper, ou Ópera Estatal de Viena, como é mais conhecido. O prédio de arquitetura neo-renascentista foi inaugurado em 1869 com a ópera Don Giovanni de Wolfgang Amadeus Mozart. Foi a primeira construção com finalidade operística na cidade. Com capacidade para quase 2 mil pessoas, o teatro possui intensa programação.
Assistir a uma ópera em Viena é garantir emoção indelével que vale o investimento, especialmente se for nos confortáveis camarotes, mas caso o orçamento esteja comprometido, a boa dica é que você pode assistir ao espetáculo pagando até menos de 10 euros, caso não se importe assistir em pé. A acústica é perfeita e o som de extrema qualidade chega a qualquer parte do teatro, mas vale lembrar que óperas duram de três a quatro horas, portanto mulheres, não arrisquem um salto.
Ruas limpas e extremamente seguras
Para os que gostam de caminhar pois, convenhamos, é a melhor maneira de conhecer uma cidade, as ruas de Viena são bastante seguras e muito limpas. Além do fator de educação de um povo que não joga lixo nas vias, há também o importante fato de que não há cães e gatos soltos pela rua, seguindo o exemplo da Holanda, e aquele que for pego em flagrante não recolhendo dejetos de seu animal, leva uma pesada multa.
A rua mais famosa e movimentada é a Graben, existente desde a época da Roma Antiga, hoje repleta de lojas tanto de souvenirs, como de grandes marcas famosas. Duas fontes, Josefsbrunnen e a Leopoldsbrunnen, enfeitam a trilha. A primeira dedicada a São José e a segunda a São Leopoldo. Estima-se que ambas sejam dos séculos 16 ou 17. A coluna da Praga (Pestsäule), monumento que comemora o fim da epidemia de 1679, chama a atenção pelo caminho.
Há ainda muitos outros monumentos e também prédios que abrigaram Mozart, Beethoven ou Mahler. Para os mais curiosos, há locações mais insólitas, como por exemplo, a lotérica onde Mozart fazia sua “fezinha” ou ainda as diversas lojas de chocolate com bombons deliciosos estampados com a imagem de Mozart ou Sissi.
Por falar em doces, a famosa torta Sacher pode ser consumida na garbosa cafeteria do hotel que deu nome à iguaria. Já a Torta Mozart, feita com chocolate e marzipan, é servida no Café Mozart, um dos mais tradicionais e elegantes cafés da cidade. Inaugurado em 1794, três anos após a morte do compositor, o local chamou-se Café Katzmayr até ser demolido em 1882. Em 1929, foi reinaugurado homenageando o gênio da música.
Como o assunto é Mozart, próximo ao café que leva seu nome, numa curta caminhada, está a Catedral de Santo Estevão, uma das construções que mais simbolizam a cidade. Imponente e vistosa, a igreja abriga em suas catacumbas os órgãos internos de membros da família Habsburgo, preservando o costume de desmembrar e distribuir os órgãos de membros da família, considerado um privilégio.
Mozart casou-se com Constanze nesta catedral, em 4 de agosto de 1782, e também batizou seus dois filhos. Após a morte do compositor, em 1791, seu corpo curiosamente foi velado na mesa igreja por apenas seis pessoas. Nem sua mulher compareceu ao funeral. O prodígio ao final da vida, com apenas 35 anos de idade, já não gozava da mesma fama.
Poucos passos da igreja está situada a casa onde Mozart e sua família viveram de 1784 a 1787. O local se tornou um importante museu que expõe uma enorme variedade de objetos pessoais e de informações sobre a vida e a carreira de Mozart.
Concertos
Para os amantes de música clássica, o melhor está por vir quando a noite cai, pois dela surge a oportunidade de viver uma experiência musical inusitada no salão de concertos mais antigo de Viena, a Sala Terrena, onde Mozart se apresentou por diversas vezes. Konzerte im Mozarthaus é um concerto de música de câmara com um quarteto de cordas interpretando peças de Mozart e outros compositores. É uma viagem fascinante ao século 18, e o mais interessante, idealizada e dirigida por um virtuoso brasileiro, Claudio Bentes.
Poucas pessoas sabem, mas Mozart em sua morte não teve nem uma identificação e nem lápide em sua cova. Hoje, há na cidade uma estátua do compositor e um também mausoléu-homenagem no Cemitério Central, ao lado de importantes nomes da música, ali realmente sepultados, como Beethoven. Apesar de mórbido, vale a visita para prestar a homenagem a estes grandes homens da música e tantos outros que lá repousam.
Beethoven
O compositor chegou pela primeira vez a Viena em 1787 para estudar com Mozart. Acredita-se que este encontro ocorreu e Beethoven teve algumas poucas lições com Mozart mas, a partir de 1792, viveu permanentemente na cidade morando em diversas casas, pois assim como seu professor, estava sempre em dívidas e causando confusão com os proprietários. A casa que hoje abriga o seu mais importante museu possui vasto material para quem quer entender melhor os 35 anos de história de Beethoven em Viena.
O Museu emociona o visitante e Beethoven e é uma completa viagem à mente e costumes do maior maestro de todos os tempos. Com o agravamento de sua deficiência auditiva, Beethoven buscou cura visitando esta região que na época ainda era camponesa. Esta casa, hoje museu, onde ele viveu, fica localizada ao lado de uma vinícola que hoje atende como um simpático restaurante.
O famoso Testamento de Heiligenstad, escrito por Beethoven para o irmão, onde o artista desabafara sobre suas preocupações em relação à progressiva surdez, foi escrita nesta mesma casa. No centro de Viena há também uma imponente estátua de Beethoven. Constantemente o compositor é lembrado com a execução de suas sinfonias pela orquestra da cidade.
Artes plásticas
O Leopold Museum tem a maior coleção das obras do renomado artista austríaco Egon Schiele. O museu também possui obras de arte moderna em suas espaçosas salas. O Kunsthistorisches Museum, um dos mais importantes do mundo, abriga no interior de seu suntuoso prédio neoclássico com uma impactante fachada e acesso às galerias de arte por meio de uma escada toda de mármore, obras de Rembrandt, Raphael, Caravaggio e Velázquez, além de uma galeria dedicada às antiguidades egípcias e outra à Roma e Grécia antigas.
O maior e mais popular nome da pintura austríaca, Gustav Klimt, tem muitas de suas obras distribuídas entre os museus da cidade, mas seu famoso quadro “O Beijo” se encontra no Palácio do Belvedere no Upper Belvedere, mas assim como a Monalisa, se quiser contemplá-lo, chegue cedo, pois o espaço fica lotado facilmente. O palácio ainda possui um dos mais charmosos jardins da Áustria. Vale a pena tirar boa parte do dia para relaxar, namorar ou simplesmente caminhar como se o dia não tivesse fim.
Freud explica
No número 19 da rua Berggasse, outrora famoso consultório e casa do pai da psicanálise Sigmund Freud, hoje atende como museu onde o visitante vive uma experiência, no mínimo interessante, apreciando objetos pessoais, fotografias, cômodos, alguns móveis e até arquivos de pacientes do famoso psicanalista. A interatividade do espaço, a campainha original (com o nome do morador especial) e a escadaria por onde passaram tantos traumas são absolutamente tentadores para aquela selfie que só mesmo Freud explica.
Gastronomia
O Schnitzel é um bife de porco ou de vitela, frito e empanado tal qual nosso famoso à milanesa. O prato é servido com maionese e salada e acompanha fritas. Os vienenses se orgulham em servir o melhor e mais gostoso Schnitzel do mundo. O lugar mais badalado para experimentar a iguaria é o Glacis Beisl que, além de um ambiente bastante descolado e aconchegante, tem ainda diversos tipos de cerveja e um adorável jardim ao ar livre para se curtir no verão. A dica é fazer a reserva antes do tempo, pois o lugar é de fato, concorridíssimo.
O Hard Rock Café, uma das franquias mais bacanas da gastronomia mundial, também tem sua base em Viena, onde em local privilegiado curte-se um ambiente agradável, repleto de memorabilia e que ainda abre o espaço para que famosos em visita a Viena, como o caso recente de Steven Van Zandt, façam um pocket show para alegria dos sortudos que resolveram matar a fome naquele instante. As porções são bastante generosas, em especial nachos e hambúrgueres. O atendimento é fantástico.
Onde se hospedar?
O melhor custo benefício de Viena é o hotel Grand Ferdinand, que está localizado na avenida Ringstrasse, bem no centro de Viena, a menos de dez minutos (caminhando) do Ópera e do Parque da Cidade. O luxuoso e charmoso hotel oferece um dos melhores cafés da manhã de toda Europa, além de atrativos curiosos como a piscina no terraço que funciona mesmo no inverno, pois é aquecida.
O The Grand Etage Private Saloon é um dos três restaurantes, disponíveis exclusivamente para os hóspedes do hotel, e oferece uma vista deslumbrante da cidade. A decoração do Grand Ferdinand é de extremo requinte fazendo jus ao charme e à elegância de uma das cidades mais sofisticadas da Europa.