O pesadelo de chegar ao destino sem os pertences pessoais assombra passageiros e traz grandes prejuízos às empresas aéreas. Conheça o desafiante caminho percorrido pela bagagem e as novas tecnologias do setor para vencer a guerra ao extravio.
Aviação
por Fabio Steinberg
Cadê a Minha Mala?
Existe um tipo de passageiro que é o sonho de qualquer companhia aérea. É aquele que do momento que chega ao aeroporto até o destino não reclama de nada. Não costuma se atrasar, nem cria confusão a bordo. Esse viajante ideal sequer aceita serviço de bordo. Tampouco faz questão de um mínimo de conforto: topa viajar até no porão da aeronave. Só exige uma coisa: chegar ao final do trajeto na hora e local, como combinado. Ah, sim, esse viajante não é humano. Atende pelo nome de bagagem.
Hoje em dia, é quase impossível dissociar a imagem de um passageiro da bagagem que sempre o acompanha. Isso vai do item mais leve, que viaja na cabine, ao mais pesado, que fará o trajeto no compartimento de carga. Não é pouca coisa. Dos quase 4 bilhões que embarcam anualmente em aviões, 82% despacham pelo menos uma bagagem. Somando, são 4,5 bilhões de volumes processados em voos por ano. Significa que em média voa menor número de passageiros que o de pertences.
Como se houvesse uma viagem dentro da viagem, há dois sistemas que funcionam em paralelo. Um é mais conhecido: administra o percurso do passageiro do momento que faz a reserva até o desembarque. O segundo pode ser menos visível, mas não é menos complexo: gerencia a rota de cada mala despachada, do check-in do aeroporto de origem até a retirada na esteira do terminal de chegada.
Altos prejuízos
No entanto, é no terreno das bagagens que o fantasma do extravio assombra por igual passageiros, aeroportos e companhias aéreas. Há razão para tanta preocupação. Além do inevitável desgaste junto aos passageiros toda vez que uma mala se perde, há um custo financeira alto. De acordo com a SITA, esses desvios custaram em dez anos U$ 27 bilhões. Quase seis em cada mil passageiros que voaram em 2016 se tornaram vítimas.
Apesar de visíveis progressos ano a ano, o problema persiste. Só em 2016 foram 22 milhões de malas que não chegaram aos aeroportos junto com os donos. Quase metade delas se perderam em conexões de voos. No mesmo ano recuperar e devolver a bagagem aos passageiros pesou U$ 2,1 bilhões aos cofres das companhias aéreas.
O estrago tende a se ampliar ainda mais quando a etiqueta de identificação se desprende da bagagem. Isso ocorre em 5% dos casos, o que exige manuseio pessoal, com atrasos de até 25% no tempo das entregas. Fazer com que tudo dê certo é por si uma tremenda epopeia. “Garantir que as bagagens cheguem ao destino junto com os passageiros é essencial para proporcionar uma excelente experiência de viagem, ao mesmo tempo em que serve para manter os custos do setor sob controle”, afirma Barbara Dalibard, CEO da SITA, provedora de tecnologias de viagens.
O segredo do ofício consiste em revisar com absoluto rigor cada uma das etapas do processo. Isso inclui verificações, a maioria por sensores, seja no check-in, despacho, transporte, separação, arrumação das malas, carga e descarga, até a transferência na chegada. No mínimo há quatro pontos de rastreamento obrigatórios onde a etiqueta presa à bagagem deve ser monitorada. O primeiro é no check–in (despacho), no momento em que o passageiro transfere a bagagem para a linha aérea. O segundo ocorre no carregamento, quando é colocada na aeronave. O terceiro é durante a mudança de custódia entre os transportadores. Finalmente, na chegada, quando a bagagem é devolvida ao passageiro.
Guerra ao extravio
Se depender da IATA, Associação Internacional de Transportes Aéreos, os problemas com bagagens estão com os dias contados. A meta é reduzir o extravio de malas e aumentar a eficiência do seu transporte. A ideia é mudar a forma como as bagagens são despachadas. Assim, a partir de junho de 2018 todas as linhas aéreas associadas, que representam 83% do total de tráfego, deverão fazer o rastreamento de cada item durante todo o trajeto.
A medida prevê a implantação de um sistema que monitore cada mala em todo o processo de transferência e transporte. Como quando é carregada na aeronave, transferida para a esteira de desembarque dos aeroportos, ou colocada disponibilizada para conexão com outra companhia aérea. Isso significa que as companhias aéreas terão que compartilhar informações com as demais partes envolvidas na devolução das bagagens aos passageiros.
Tecnologia em ação
A Identificação por Radiofrenquência (RFID) é uma tecnologia já utilizada há anos em vários setores, desde linhas de montagens industriais a etiquetas de lojas. Implantar chips de RFID nas etiquetas de bagagens cai como luva para rastrear malas em tempo real em pontos-chave da viagem.
O sistema funciona assim: leitores de RFID usam ondas de rádio para captar dados do chip em segundos, mesmo que a etiqueta da bagagem esteja oculta em uma pilha de malas ou em contêiner. Isso significa que as bagagens não precisam ser manipuladas individualmente para serem lidas, o que resulta em menos erros de leitura e bagagens extraviadas. A vantagem do chip RFID sobre a etiqueta de papel usada atualmente é que ele não rasga nem se desgasta durante a viagem.
Janela virtual
Tome-se o que ocorre no Terminal 3 do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, o maior do país. Lá são processadas 35 mil malas diárias. Uma vez despachadas e etiquetadas, e cada vez mais pelo próprio passageiro, começa um extenso trajeto subterrâneo de cinco quilômetros de esteiras integradas. A bagagem rola no subsolo, debaixo dos pés e longe dos olhos dos passageiros, que caminham entre comércio, restaurantes, em direção à área de embarque. Durante o percurso, entram em cena diversas verificações que incluem desde scanners das etiquetas de bagagem, até raio-X e tomógrafo para inspeções de segurança.
Com informações sobre o passageiro, voo, destino, peso e tamanho, a mala ganha da companhia aérea uma espécie de identidade, também chamada de janela virtual. Ela contém os dados existentes no código de barras da etiqueta de bagagem. Essa informação que define o roteiro da bagagem, e determina qual esteira específica deve tomar em direção do voo definido. A etapa seguinte é a de segurança – uma novela à parte. Em Guarulhos há até cinco inspeções independentes para evitar que armas, explosivos, drogas ou demais conteúdos proibidos sejam embarcados. O primeiro é um raio-X sem interferência humana. Se houver problemas, há uma segunda verificação mais criteriosa por uma equipe especializada.
Diante de eventual reprovação a mala vai para uma terceira investigação, desta vez por um tomógrafo automatizado com imagens em 3D. Se mesmo assim persistirem dúvidas, a mala é aberta, sempre com a presença do passageiro. É algo diferente do que procedimento nos aeroportos dos Estados Unidos, onde a bagagem pode ser aberta à revelia, mesmo com o proprietário ausente.
Vencida a etapa da segurança, a bagagem se dirige ao starter, também conhecido como carrossel. Funciona como um centro de distribuição que leva a mala a esteiras menores na direção da área onde o avião está estacionado. Ao chegar ao local designado para coletar as bagagens do voo específico a mala é direcionada a contêineres, onde é separada em função da classe do passageiro e tipo de conexão. Lacrados, os contêineres são levados ao porão do avião. Na chegada ao aeroporto de destino a mala percorre o caminho inverso. As bagagens são descarregadas da aeronave e enviadas à esteira do terminal designado, ou então encaminhadas à conexão com outro voo.
Quando se trata de mala, a evolução não para. A próxima etapa é “emponderar” o passageiro para que ele mesmo possa rastrear pelo smartphone a via crucis de sua bagagem. Assim ele pode saber por onde andam seus pertences, desde a hora do check-in até a devolução, mesmo que o processo enfrente diversos aeroportos e companhias aéreas. Como uma eficiente babá eletrônica que revela à distância cada movimento do neném, a mala pode até viajar em separado, só que estará sob o olhar vigilante do dono graças à tecnologia.
Qual a mala ideal
Não é toda mala que já nasceu com capacidade para enfrentar o árido percurso e inúmeras manipulações em aeroportos e transportes terrestre e aéreo complementares. Para evitar cicatrizes de combates na trajetória, é preciso saber escolher o produto que vai transportar os pertences no voo. Isto não quer dizer que mala cara é sinônimo de qualidade.
A Samsonite, por exemplo, explica que uma boa mala une design, força e leveza, com material impermeável, de alta resistência a impactos e reciclável. Vale lembrar que em tempos de bagagem restrita a 23 kg há recursos tecnológicos que reduzem em até 50% o volume de polipropileno utilizado.
Para unir força e leveza, a empresa usa a tecnologia patenteada chamada Curv®, impermeável, com alta resistência a impactos, extremamente leve, com uma redução de 50% de volume em relação ao polipropileno normal (1mm de espessura) e 100% reciclável. Os atributos avaliados variam de acordo com o perfil de cada viajante. Atualmente, o peso, a resistência e o design são os três pontos mais buscados pelos clientes da Samsonite.